MAPINGUARI

Tudo ali na minha frente. Eu me perco em mim mesma, agarrada com aquele gigante, nunca tinha visto uma criatura daquela, nem mesmo parecida! Um animal com apenas um olho no meio da testa e a boca no lugar do umbigo.  

Ele me engoliu pelo seu único olho! Eu, humana, vendo tudo por um olho de um monstro, não tinha o que fazer, a não ser ficar quietinha no seu tragar, mas em um instante, ele dispara numa velocidade que não tinha ideia de quantos quilômetros por hora. Perpétua com aquilo, quis saber alguma coisa que me desse um ponto de alívio ou não! Estava muito escuro no meio da mata, mas seu único olho clareava como um farol que para mim era desconhecido. 

Então, o gigante me disse:

—  Descontente tu estás com o mundo, então vou lhe mostrar o que precisa saber. 

Exprime um pensamento de que estava me levando do céu ao inferno ao mesmo tempo, mas eu só pensei de onde vinha esta criatura, de que espécie pertencia aquele animal? 

Tentei fechar o olho, mas não consegui, eu via tudo pelo olho dele, tudo era muito misterioso, a sensação térmica era quentinha. Ele tinha o corpo coberto de pelo, era um aquecimento bom, como se estivesse em um frio, aquecida por uma coberta de pelos macios. Aquele animal estranho fazia vento por meio das árvores, na selva Amazônica. Eu tentei falar, mas saiu um som como a espécie de uma voz robótica ou parecida com a do Tio Patinhas:

 —  Onde nós estamos agora?

Com o mesmo som de voz, ele responde:

— Estamos passando pela reserva da Serra do Cachimbo.

    — Mas o que você veio fazer aqui pelas bandas do Mato Grosso?

     Eu fiquei preocupada, toda atordoada, com um silêncio sem resposta. A trajetória começou a me enfadar, o coração galope nos palpitar, não tive no momento resposta tocável.

Logo ele falou com a sua voz chiada como um rádio mal sintonizado. 

    — Manaus Capital da Amazônia, eu vim de Rondônia.

     Me senti acomodada que lá seria o fim da viagem, mas acreditava que aquele animal fosse uma miragem, que eu estava em um sono profundo e em um sonho pra lá de estranho. Senti algo íntimo como se fosse uma paixão nascendo entre um humano e um selvagem. 

Era dia 05 de setembro, dia da Amazônia. 

Será esse elo de um humano e um animal tão misterioso? Seria um sinal para um olhar de maior conscientização e respeito desse importantíssimo patrimônio natural? 

Amazônia, 05 de setembro de 1850.

 Eu sempre tive muita calorenta e neste dia fui ao Rio Teles Pires, na região de Sinop/Mato Grosso, me refrescar. 

O gigante emitiu um grito semelhante ao grito realizado por uma pessoa. Ao responder o grito, eu estava perdida, mas, assim, eu fiquei.

 Era bem possível que o gigante estivesse irritado comigo por eu ter visto como era por dentro da sua origem, e me esmagasse entre as suas unhas, pois era muito milenar aquele ser! 

Oh! Que dia era aquele, meu Deus! Enquanto eu pensava, nós íamos andando mata adentro, arrebentando tudo no peito, até que o animal travou. Então, o meu coração foi aos berros, somente eu e o bicho, nada vi, além da imensa floresta da Amazônia, que não via nem um palmo de clarear, para cima, nem o céu estrelado, porém, até ali só o verde das matas, um lugar rico em plantas nativas, uma virgem natureza. 

Era tudo enorme, robustas, lugar onde o vento saracoteia as largas folhas das árvores. O alarido daquele lugar era mesmo de festa boa! Então, o gigante disse que a vida das coisas ali era uma festa em calmaria, diferente da povoação. 

— Qual o significado desta natureza? Perguntei para ele.

— Não sei, sei que é um mistério imenso.

Surge então, uma outra figura que fitou os olhos no único olho, era um olhar não tão reluzente. Era um olhar familiar, mas ainda me despertava uma visão selvagem. Eu me sentia perdida naquele ambiente. Aquele ser parecia largo, grosso, bruto e ao mesmo tempo muito magro e alto.

Em meio àquela experiência, tive um imobilismo decorrente de um sentimento pasmo, de estar diante de algo que não esperava. Eu fiquei assombrada, admirada, perplexa, não disse nada, mas por um instante, indaguei quem era e como se chamava, pois eu já não sabia se estava acordada ou dormindo.

     — Chama-me de Preguiça, sou a sua salvação!  

Ao ouvir aquelas palavras, eu senti a ausência do meu amado, e fui tomada por um susto. Eu o ouvi se afastando de mim, era um barulho por entre as árvores, como o efeito de um tufão de vento, a floresta se torceu em um grande gemido, como se tivesse quebrando, tudo foi se afugentando. 

     — Não te assustes, disse a Preguiça, sou amiga a favor da vida. Viver eu quero e não destruição!

— Mas, porque aquele animal misterioso se foi com tanto furor com a sua presença? Eu me mordo para ter certeza se estava viva.

— Ele, não é do mal, por isso você gostou dele e estás viva. Não tenha medo, pois provarei o que estou dizendo, ele é muito marginalizado, e por horas ele prova do sentimento de dor e miséria dos homens. 

— Ele vive, porém a desgraça da ganância do homem ensandeceu quando entrou na velhice.

Dizendo isto, ela vagarosamente estendeu a mão, segurou-me pelo braço esquerdo e levantou-me até uma árvore, como se eu fosse uma folha. Então, percebi que se tratava de uma Preguiça gigante. Naquele instante me senti débil e caduca.

     — Consegue entender agora? disse ela, enquanto me transportava de um galho para outro, e em algum tempo tentei refletir se os fatos estariam relacionados à realidade.

     — Não, respondi, nem que sim e nem que não, naquele exato momento. Porém, depois de um galho e outro eu disse:

— Tu és uma ilusão. Logo vou acordar deste sonho, e penso que se tudo que está acontecendo for real, eu recairei na depressão e me perderei na mata enlouquecida, tu não passas de uma teoria vã. 

A Preguiça começou a falar:

— Vou te contar desde o começo para que entendas. Com a ocupação da Amazônia, há mais de 14 mil anos, mais ou menos, o homem começou a desenvolver a agricultura e a extração do minério, assim como, da madeira. Vivendo em uma mesma região da terra, a sociedade indígena se opôs em defender a sua região. Então, houve uma grande batalha com índios e brancos. Ocorreu a morte do mais forte e mais poderoso guerreiro de todas as tribos da Amazônia, com isso, a Deusa mãe Natureza deu origem a esta criatura gigante, o Mapinguari que vive no coração da floresta Amazônica, guardando a floresta. Ele era um índio que vivia aqui desde a origem dos séculos. 

        Ela falava enquanto lentamente andava, hora por terra, hora pelas copas das árvores. Eu caí em reflexão para tentar saber o porquê eu estava ali. O que aqueles animais quadrúpedes, gigantes queriam de mim. Porque a Preguiça era uma animal extremamente grande? Gigantesca? Nem em filme tinha visto uma preguiça daquele tamanho! Insinuei dúvida novamente sobre o que estava acontecendo. 

    — Isso tudo é uma miragem, estou muito longe da realidade. 

Mas a preguiça não me entendeu ou fez de conta que não me ouviu. Logo ela retorceu a cabeça para trás de frente com meu rosto e com um gesto de indignação deu uma bufada, que eu quase vou ao chão. Pela minha segurança calei-me por hora, deixando-me ir pela aventura que não escolhi. Mesmo que fosse um sonho, eu não havia escolhido algo tão sinistro e tão bizarro até o momento. 

Eu estava calada, mas me matando em curiosidade, por saber realmente a origem de tudo aquilo, uma vez que para mim estava longe da minha realidade, tudo era muito misterioso, não se valia de coisa alguma, algo mais ou menos. 

Era a confidência do dia: reflexões sobre a conscientização da Amazônia ou de um cérebro doente mental! Eu ia de olhos abertos, mas não havia estrada, era tudo floresta. A sucessão de medo aumentava, a cada pulo que ele dava de um galho para outro, houve momentos em me imaginar jogada dos ares ao chão, em meio a maior floresta do mundo! 

Tentei pronunciar algo, mas apenas cochichei ansiosamente: 

     - Onde estamos, dona preguiça? 

    Então, ela me respondeu:

     —  Já passamos da Floresta do Jamanxim, venho com você até aqui. 

Parece que faz uma eternidade esta caminhada e mal estamos aqui! Parece que estamos retrocedendo nossa jornada?

Respondeu a preguiça depois da minha fala rabugenta:

 — Se fosse eu com certeza chegaria ao fim, fui guiada com precisão no local estabelecido, determinado e firmado! Mas, os céus se retrocederam e, enviou outro animal para levar você e a sua incredulidade até a origem da maior floresta brasileira, que divide os sete estados da região norte, além do Mato Grosso e Maranhão, sendo a maior bacia hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica.

Enquanto o animal gigante falava eu estava em uma sucessão de estar meio acordada e meio dormindo, então, me vejo a pensar: 

— Já li em vários lugares que em meio aos mitos há um núcleo verdadeiro. Será que não fosse este o caso em meio a uma floresta imensurável para mim?

 Comecei a refletir que, se tratando de uma lenda Amazônica, poderia haver uma possibilidade de existir tais animais! A Preguiça gigante que me fazia companhia até ali era mesmo um bicho preguiça que eu conhecia, só mudava de tamanho, o resto tudo era igual a um animal normal. Mas, o Mapinguari era mesmo um animal extraterrestre para mim, eu estava apaixonada por aquele animal exótico, de um enorme olho ao meio da testa e uma grande boca no ventre. 

Um dia quem sabe a ciência confirma a existência destes animais de origem da Amazônica!

Há um grande mistério em meio a tudo isso, que no meu pensar foi a Preguiça que espantou o Mapinguari, porém, nesta maratona em meio a Amazônia, quem sabe vou eu descobrir este mistério! Se não for em meio a esse delírio e realidade, quem sabe um dia a ciência confirme a existência destes animais de origem Amazonense. 

Mesmo presenciando algo tão inusitado, não acredito que sejam animais devoradores de gente. Sou muito ruim de precisão de espaço, não sei qual era o tamanho dos animais, sei que eram gigantes perto de mim. 

A Preguiça havia tirado um cochilo enquanto fazia minhas reflexões falando sozinha, logo ela acordou e começou a falar:

—  O dia clareou logo tu recomeçarás seu percurso, pela maior floresta do mundo que muito me orgulho de fazer parte desta fauna, tu estás conhecendo a Amazônia que é cortada pelo maior rio do mundo, o Rio Amazonas, que nasce na Cordilheira dos Andes. 

— Durante todo o percurso, diversos afluentes se juntam ao rio principal, podendo demorar quilômetros para esta união, como é o caso do Rio Negro e Solimões. Entretanto, na foz do Rio Amazonas, ocorre a liberação de 160 milhões de litros, e por isso tanto a foz, como a liberação de água, são consideradas as maiores do mundo. Pela minha vivência, sei que uma quantidade grande da parte da água doce disponível no mundo se encontra na Amazônia que vem cortando pela Linha do Equador. 

A palestra continuava:

— O clima é tropical, com uma temperatura média de 25°C, durante todo ano e como resultado, a divisão climática é feita pelas chuvas, bem provável que você pegará alguma delas. Nas regiões litorâneas, as chuvas são mais constantes pelo primeiro contato com frentes úmidas do Atlântico. Com a diferença de pressão, as nuvens embrenham no continente, levando as chuvas ao longo de toda a Floresta Amazônica até as Cordilheiras dos Andes. Ao entrarem no seu limite, a oeste da América do Sul, a frente úmida sai do seu percurso, voltando-se para o sul, e, assim, dispersando-se. Esse fenômeno é conhecido como rios voadores, sendo primordial para que as chuvas toquem nas regiões centrais, como por exemplo no Pantanal. E agora você,já está por dentro de algumas características da Amazônia.

— Sim. Acudi a sua pergunta.

Então, tive uma aula de geografia do animal gigante da floresta que se fosse prestar o ENEM, iria bem em todas as provas. Ela me esmaga entre seu conhecimento, mas também, é um ser tão milenar dessa região! 

Enquanto isso, começo a chorar. Será que eu estava tendo uma visão de tempos em que não vivi, o que mais me intrigava agora era que eu andava pelo meio de um grande alvoroço pelo ciclo econômico da borracha, onde enriqueceu os barões de Belém e Manaus, e os índios e seringueiros foram se extinguindo. Será que estava com o espírito do Mapinguari? 

Era como um despertar de um momento tão mágico, Mapinguari, então, estava em mim como um filme de 3D, como se eu estivesse dentro de um programa de computador.

 Eu enxergava o ano de 1960, dois anos antes da minha vinda a este mundo, muitos militares no comando, com os planos de integração nacional, a descoberta de minérios e grandes projetos de desenvolvimento nessa região, pois ela havia se estagnado e estava voltando a crescer, recebendo novos migrantes de todo o Brasil, principalmente do Sul do país. Então, eu pensava:

 — Meu Deus! O que era aquilo que estava vivenciando? Eu havia voltado no passado com aquela criatura assustadora que a princípio é tão adorável agora! 

Enxergava agora um período, que marca drasticamente a mudança na paisagem da Amazônia, com a destruição da floresta, principalmente pela abertura de estradas e para a formação de pastagem e exploração do ouro e da madeira predatória. 

Oh! Natureza és tu o meu Mapinguari? Porque me deixaram aqui a ver tanta tristeza? 

Oh! Mãe Natureza, me dê uma saída. Se eu estou sonhando, me traga o acordar! Se estou acordada me ensina a voar! 

Do que vi aqui tenho remorso de um povo inconsequente pela ganância, matando gente e acabando com o poder da ciência. Porque levam nos bolsos os bens e transformam em males, nas suas maiores arrogâncias e de toda espécie da ganância, deixando o futuro sem esperança e consolação; que neste momento a minha alma treme, diante de tudo que vi!

 O olhar do Mapinguari me fascina!

Creio que ele não é somente uma miragem, é também real, e sei que ele está prestes a me devolver a realidade! 

Eu o amei tanto! Uma criatura doce de pelos macios, evoluiu tanto que me apaixonei. É um grande brincalhão e travesso, sua cultura é marcada pelo seu acervo.

Quando minhas palavras ecoaram, como um rentável, naquela imensa floresta, começo uma reconstrução de uma língua do meu idioma próprio, sendo que o outro, eu já não sabia mais! Pareceu-me que seriam as últimas palavras que sairiam da minha boca, tinha o aspecto de sentimento de que ia entrar em decomposição lentamente. Então, vomitei até ficar com os olhos esbugalhados. Gritei por socorro, não sabia em que região da Amazônia estava, ou se realmente ali estava! 

 Ouvi uma voz que exclamou.

—  Triste tempo! Espere só mais alguns instantes e verás mais um pouco da realidade!  Para olhar bem de perto a humanidade sendo devoradas pela ganância, não digo pela ambição. Não estás farta do mundo? É um espetáculo a luta pela vida, os pobres vivem de sobejos de miséria, o índio logo mais não existe.

Tudo o que eu presenciei era tudo torpe, um triste alvoroço do homem de dia e de noite as risadas melancólicas.  Os aspectos que ficaram naquela tão linda floresta eram tristes: o povo já não tinha mais sono, enfim, nem um benefício das mãos do homem. Só lágrimas no chão com esta indagação:

— Olha o que fizeram? O que mais terão agora, seus ignorantes idiotas? 

Era como se eu estivesse voltando aos poucos de uma vertigem, fui ganhando forças, pelo amor que sentia pelo Mapinguari. Amor que jamais esquecerei, de amar a Natureza e lutar por cada espaço que outros poderiam dizer não ser nada! Se amamos a vida, amamos a natureza com o mesmo amor, porque temos nós que golpeá-la, matando-a? Não se importando com o tempo dos que vêm? Das gerações futuras? Os minutos que passam como dia, mas sem se importar com os dias que vêm!

 Os tempos que vêm são fúnebres, são porque eu vi. Quando isso acontecer, nós não estaremos mais aqui. O futuro que vem não é nada festivo, nada prazeroso, as pessoas supõem que vão trazer em si uma fortuna eternizada, e por natureza vem a morte! 

O tempo subsiste, mas a natureza não, não com a degradação!

 Egoísmo, pensar ao contrário!  Sim, egoísmo! Sim, a natureza também tem sua lei! Egoísmo é dizer não a conservação!

 Neste tempo de conversação, eu ainda estava, com o aroma do Mapinguari, um bruto choque tomei, eu estava de volta ao ventre do animal, que tinha um enorme coração e um amor foguejante pela floresta e por mim!

 Eu já sabia sua origem. O que eu ainda não sabia, era se eu sonhava ou estava acordada. Porém, me sentia segura, aconchegada pelo grande guardião da floresta.

Logo que saímos mata a dentro ele estava mais conversador, agora falando dos raciocínios e dos distintos:

— A onça tem instinto somente, o homem tem instinto e raciocínio certo? 

Eu respondi logo com o coração pegando fogo em amor: 

— Certo.

Então, ele sobe, observo o seu olhar, que era um só, saltamos ao alto de uma grande montanha. Nós estávamos no Pico da Neblina, a maior montanha do Brasil, então, inclinei o corpo a uma das nascentes, e contemplei durante um tempo, a linda água cristalina que nascia em meio ao rochedo, algo único.

Caro leitor uma redução da maior floresta do mundo, e ao mesmo tempo um desfilar daquela exuberante natureza de tudo, as espécies de animais era apaixonante, o tumulto das revogadas de um império de aves, tudo agora era muito lindo, mesmo entre as guerras da ganância e do ódio e destruição dos seres. 

Por um instante, presencio um espetáculo, de gosto amargo e amoroso!

Em uma história do homem e da Amazônia, tive uma intensa emoção e visão que não posso lhes repassar com exatidão. Acredito que nem com todo o esforço da minha imaginação teria o poder de colocar aqui tudo que vi e nem a ciência pode mostrar toda a verdade, porque a ciência como sempre é lenta! Faz vista grossa!

 A minha imaginação é vaga, porque o que eu vi ali foi um resumo vivo de todos os tempos até aqui.  Para descrever eu teria que ser bem precisa, e isso não é possível para mim, pois sofro de dislexia e déficit de atenção. 

A Floresta amazônica desfilava num movimento rápido, circular, transportando-me para um mundo o qual eu não sabia se era um delírio ou real, mesmo eu estando vendo tudo a minha volta, desde a destruição até as mais lindas glórias! A ganância agravando a triste devastação, uma triste cobiça que devora, inflamando a inveja é a avareza em corrupção entrelaçada a ambição que trazia a fome e tantos outros desencontros de grandes tristezas e desencantos. 

Entre estes flagelos, estava também a depressão, que tem o poder de levar o homem em farrapos, mesmo na sua agitação, como também, do desconformado, sempre querendo mais e mais, não conseguindo, olhar e zelar pela vida!

 Um mal que existe desde a origem dos séculos, desde os primeiros homens, que horas eram as formas variadas de um mal, que davam pancadas no próprio estômago!

 Eu percebia que a natureza desfilava tristemente com suas vestes, em volta das máquinas humanas, às vezes um ou outro, cedia o lugar para a dor de uma árvore ao chão!  

     A indiferença é um sonho sem sonho ou um prazer momentâneo, que no futuro se transformarão em uma dor órfã. Então, os homens, em farrapos, correrão atrás do seu destino, algo que não se pode evitar, pois é fato, é fatalismo. Uma imaginação ou eu enxergava mesmo aquele cenário? 

A felicidade, lhes fugia eternamente, ou eles poderiam mudar de ideia enquanto era tempo e a natureza poderia continuar com o seu mais lindo riso, trazendo a admiração às pessoas que a enxergavam, transformando a desilusão que existia naquele momento, em meio a tanta calamidade.

Eu estava triste ao sentir tanta dor e desilusão, então, não me contive e as lágrimas caíram, em tanta angústia, que o Mapinguari escuta sem falar nada, até que eu fui descompassando o choro, me sentindo mais forte e voltei a falar:

— Mapinguari tu não choras em ver esta triste devastação sem necessidade, sendo só pela ganância e vaidade do homem?  

— Não vale a pena, isso não é divertido, e sim, muito triste! Amaldiçoado o dia em que renasci como guardião da Floresta Amazônica, porque me dá tristeza de ver de cá o espetáculo do homem, sem eu poder fazer nada.

    Então, eu retruquei:

     — Vamos lá, Mapinguari! Impedir-lhes, abra o ventre, e me engula, a coisa não é divertida, mesmo!

     A sua resposta foi virar-me com força, tragando-me como se eu fosse um lambari, passei por entre os dentes, sem triscar e nenhum! 

Em um salto veloz, saímos da montanha. Logo, enxergamos a tribulação das gerações que viria depois desses acontecimentos, caso nada fosse feito. Uma geração com uma tristeza, como os dos animais queimados vivos. Era a lei do retorno, por causa da caça, parecia que iam pontualmente nos seus túmulos de covas rasas. 

Eu fixei os olhos, a visão estava um pouco turva, tudo meio confuso e duvidoso, como se eu estivesse voltando de uma anestesia geral. Estava me tranquilizando, me sentindo alegre, pois consegui ver uma nova geração que trazia luz para o verde em combate a tudo que estava acontecendo, através de um sistema de ideias inovadoras, aflorando junto com a primavera! 

Uma geração desarmada da ganância; vestidos com vestes construtivas, com propostas criativas para com a ciência; transformando-os em bons oradores; bons filósofos e não mecânicos.

Eu estava com o olhar, ainda, sonolento, cansado e distraído! Mas, vi chegar a geração presente e as do futuro, que vinham de forma: ágil; esquerda; vibrante; cheia de conhecimentos; heróis; sabedores e tão diferente de suas raízes!

Por um momento eu me dei conta de que estava nos braços do gigante, então, me esforcei para ter uma atenção maior, firmei a visão através de um olho só, que não havia me habituado ainda. Então, percebi que Mapinguari galopeava em uma rapidez, que se fosse um automóvel não havia tempo para trocar de marchas, se eu não me atentasse, eu perderia toda a compreensão!

Relâmpagos com raios começaram a cair, seria perto de Manaus? Será que por isso, estávamos nas matas em que horas umas eram maiores e outras eram pequenas, que quase não se apareciam no ambiente? 

A chuva que começou a cair cobriu tudo, só não me atingiu porque eu estava dentro do Mapinguari.

De repente, a chuva parou em meio aos relâmpagos e raios, apesar de todas as visões, eu ainda estava incrédula, queria mais provas de que não estava sonhando! Então, pedi ao gigante que me colocasse para fora, no meio da tempestade com chuvas e raios. Então, pensei:

— Se todo este tempo, tudo era real e não havia morrido em meio a tantas coisas que nem me atrevo a dizer aqui, não é um raio que iria colocar tudo um fim! E se isso fosse acontecer, eu já tinha visto tudo que ocorreria por toda a minha vida e pelas que ainda estavam por vir. 

Logo eu não conseguia sair e nem o Mapinguari me escarrava. Portanto, pensei:

— Poxa! Agora estou ferrada de vez! Não estou nem viva, nem morta, nem lenda, nem real, nem do bem, nem do mal! 

E nesta relutância começava tudo a dissolver com a chuva, ficando somente eu! Então, tentei correr, mas não conseguia sair do lugar, acordei com alguém me chacoalhando, tentando me acordar. No momento que eu acordei eu tinha a certeza que tudo tinha sido real e que eu tinha realmente visto e passado por todos aqueles momentos ao lado do Mapinguari!