É a Xanadu de Kublai, Genghis

Aluu. Inuugujaq meus 23 fieis leitores e demais 36 que de quando em vez galopam até minha cidade murada literária a fim de ler épicas crônicas de cavalaria redigidas por este genial Bacamarte. Ajuungila?

Não caiam do cavalo! Os mongóis, nos anos 1100 e 1200, não só não caiam como também atiravam de arco e flecha galopando velozmente, enquanto conduziam os animais somente com a pressão dos joelhos. E eram certeiros! Treinavam desde a tenra infância esse "ofício". Sim, isso mesmo que tuzes leram, ofício, pois eles só faziam isso, eis que eram nômades caçadores (desconheciam a agricultura) que comiam carne crua, viviam em tendas e mudavam-se constantemente de local. Mais do que isso, só faziam era se reproduzir e guerrear entre si. Eram médios no primeiro item, mas excepcionais no segundo. Até que um dia surgiu um cara que viria a ser conhecido como GENGHIS KHAN...

Genghis disse pro pessoal parar de brigar e se unir. Os que concordaram com ele ficaram de boa, os que não, ele matou. Todos. Genghis era um cara prático e objetivo, com ele os problemas deveriam ser resolvidos de duas maneiras: matar ou mandar matar. Quando não havia mais ninguém para matar na sua amada MONGÓLIA, entrou em depressão por um breve período, até se lembrar da China, cheia de gente, ali do ladinho. Bom, então era só pegar as tendas, os cavalos, os arcos e as flechas começar a festa. Festa para os mongóis, horror para os chineses. Os mongóis, agora, todos eles, eram do exército, que era composto por toda a população masculina entre 15 e 60 anos (nem sabia que se vivia tanto assim naquele tempo e que os guerreiros não tinham aposentadoria especial, que nem os militares de hoje), cada um com cinco cavalos - havia muito cavalo na vastidão da Mongólia, ou melhor, fortes e ágeis pôneis, os primeiros pôneis malditos da história (lembram da propaganda?).

Isso era mais peitaço do que o Uruguay tentar invadir o Brasil, tal a gigantesca disparidade entre as populações (hoje, são três milhões e meio de mongóis e mais de um bilhão de chineses!). Só que os mongóis eram medalha de ouro no arco e flecha atirando de cima do cavalo em criaturas vivas e estavam unificados. E a CHINA, para azar dela, era dividida em três reinos independentes e suas cidades eram muradas e isoladas. Então os mongóis, analfabetos de pai e mãe (não possuíam escrita), sujos, fedidos, piolhentos, sem conhecimento ou ciência, deparavam-se com aquelas muralhas e não sabiam o que fazer, eis que o cavalo não podia saltar por cima. Bom, como tinham tempo e eram práticos e determinados, então montavam acampamento em volta das cidades, cercando-as, pacientemente.

Quando a fome pegava no interior dos muros, saiam militares para enfrentarem os sitiantes em campo aberto, em busca de víveres, e eles os matavam. Todos. Se a cidade resistisse muito tempo ao cerco, Genghis se aborrecia e, quando se rendessem, matava toda a população e depois pilhava e incendiava a cidade, para aliviar o estresse. Sim, isso mesmo, toda a população. Os mongóis achavam que dava muito trabalho esse negócio de fazer prisioneiros e era muito perigoso deixar pra trás gente para se vingar quando crescesse (entenderam?), assim, o pessoal já sabia: ou se rendiam de cara e cediam riquezas e mulheres ou... Dizem que os mongóis mataram cerca de 30 milhões de chineses por essa época. É que sempre teve muito, mas muito chinês nesse mundo.

Para encurtar a história (que já é o resumo do resumo do resumo da síntese do índice), só um dos reinos sobrou, pois viu o que aconteceu com os outros e resolveu unir a chinesada das cidades pra proteger o território. Genghis viu aquele povo todo, achou que era chinês demais junto pra as flechas mongóis e resolveu ir matar gente por outras paragens, variando um pouco a etnia a ser caçada. Lembrou dos RUSSOS, era só subir pelo mapa. E foi assim que surgiu o maior reino contínuo da História da Humanidade, porque o Genghis enjoou de matar chinês e resolver cavalgar, acampar e matar por paragens diferentes. O maior, isso mesmo, pesquisem para ver. Ao morrer, aos 65 anos, muito provavelmente de peste bubônica (quem mandou ir pra HUNGRIA e pra POLÔNIA matar gente?), Genghis dominava quase 22% do planeta. Na verdade seus descendentes chegaram a esse percentual, e aqui entra o Kublai.

KUBLAI KHAN era neto de Genghis. Um amor de pessoa, se comparado ao avô. Mas um amor dentro dos critérios mongóis, pessoal, o que significa que ele apenas não se divertia muito com essa coisa de matar a população toda das cidades para festejar e aliviar o estresse, pois era apreciador da cultura chinesa. Um requinte o homem, até a ler aprendeu. Genghis devia olhar o guri ainda pequeno e pensar: "Ih, esse vai querer estudar na USP e vai virar comuna". Bom, de fato, Kublai se declarou imperador da China, embora isso fosse 700 anos antes do camarada Mao fazer a Grande Marcha, a Revolução Cultural e escrever o Livro Vermelho.

O fato é que Genghis tinha um pé atrás com Kublai e, justiça seja feita, não por causa dele, até, mas sim de seu pai, Tolui, primeiro filho de Genghis. É um rolo familiar daqueles isso, que teria de ser tratado em outro texto para não esticar muito esse. Resumindo, consta que o grande Genghis não tinha certeza da paternidade, pois sua mulher foi sequestrada e ele a libertou grávida, não dando para saber se era ele ou o raptor o pai da criança, pois esta era a cara da mãe. Logo, vê-se, não era apenas um pé atrás, mas também uma coceira na testa. Teria Kublai o seu sangue? Como não havia DNA naquele tempo...

Não lembro se Kublai chegou a conquistar o terceiro reino aquele que o vovô deixou passar batido e tô com preguiça de pesquisar no Google, vão lá vocês verem se quiserem, pois isso não interessa muito agora. O que interessa para tuzes saberem é que o amoroso e letrado Kublai construiu uma cidade paradisíaca e requintada chamada XANADU e por lá passava o verão, dizem até que comendo carne assada e... amando! Sim, foi por essa época que os mongóis passaram a ficar medianos nesse troço de matar gente a flechada e excepcionais em se reproduzir. Kublai se apaixonou por uma jovem que era, dizem os poetas e historiadores chineses, lindíssima (parece que chinesa). Dizem que mandou construir um gigantesco jardim no palácio, para a amada se lembrar de sua terra natal, e passava lá o verão inteiro, pelado e fazendo sexo ("Mulher nova, bonita e carinhosa, faz um homem gemer sem sentir dor"). Claro, obviamente isso foi o começo do fim do império mongol, que parou de crescer e começou a diminuir.

Se Genghis fosse vivo, nunca teria deixado esse lance esquerdopata, universitário e artístico de Xanadu se criar, claro. "Como assim, que riponguice é essa de faça amor, não faça a guerra? Sem essa de Paz & Amor, é Guerra & Horror! E ainda mais esse troço de neto casando com chinesa, onde já se viu? Chinesa é para se estuprar e depois matar, não necessariamente nessa ordem", como mandava a tradição mongol, que apresentava uns hábitos bem bárbaros, sádicos e violentos de diversão. "Ora, neto meu comendo carne assada e cozida, que barbaridade, assim não há império que se mantenha!"

O que nem Genghis e tampouco Kublai jamais pensaram é que virariam tema de música pop nos anos 1970 do século 20, 700 anos depois, depois até do Mao! Uma band pop alemã chamada Genghis Khan gravou uma canção com esse mesmo nome, muito sucesso em 1979. Eram (os) seis (não resisti), quatro caras e duas mulheres, que se vestiam com fantasias, alguns deles como mongóis. Até um clone brasileiro a alemoada surgiu, um quarteto. Recordam da canção? "E a todos que encontrava ro ro ro ro ro, matava e queimava, ra ra ra ra ra, era o mais temido dos mortais! Genghis, Genghis, Genghis Khan..." Já Kublai e sua cidade dos sonhos, pela mesma época, inspiraram a canção Xanadu, do trio canadense de rock progressivo Rush. [Tem também uma canção chamada Xanadu, tema de um filme homônimo, mas essa não recomendo, pois usa o nome sem citar Kublai e a sua onírica cidade. Aliás, o filme é ruim, a canção é uma bosta é só vale pela cantora, Olívia Newton John, que é muito boa, aliás, é bótima!]

E as canções tinham tudo a ver com as personagens retratadas: Genghis Khan é bem básica e Xanadu bem sofisticada, tem onze minutos e a letra fala em "beber o leite do paraíso". Imagina, leite do paraíso? Genghis com certeza teria matado todos eles e estuprado e matado todas elas [especialmente a Olívia] de tanta raiva. Já Kublai teria os levado para Xanadu para fazerem recitais para ele e sua amada nos jardins do palácio, sem matar nem estuprar ninguém [inclusive a Olívia]. Um cara muito tri o Kublai, para um ditador.

Passados o séculos, hoje a MONGÓLIA é um paiseco insignificante espremido entre a Rússia e a China, sem fronteira marítima e com a menor densidade demográfica do planeta. Sim, eles voltaram a ser medianos naquilo. Ainda comem carne crua por lá e vez ou outra, acreditem, ainda morre alguém de peste bubônica em solo mongol. O país já foi comunista e agora é uma economia de mercado, desde que a cortina de ferro e a União Soviética rasgaram. O melhor, deixei para o final: sabe qual é a religião dos descendentes do cruel e sanguinário Genghis? Pasmem: Budismo! O Khan deve estar se revirando no inferno: "Culpa do Kublai, isso".

Qujanaq por terem dado uma passadona por aqui hoje, pois foi um textão, né. Takuss"!

PS - A mulher do Kublai era mongol, mas eu achei mais legal dizer que ela era chinesa - pois, de fato, o Khan possuía umas chinesas em seu harém. Além de ficar mais dramático, o fato é que eu não perco essa mania de mentir pra tuzes.

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

MAIS TEXTOS em:

http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina

Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".)

CARTA ABERTA aos meus 23 leitores: https://www.recantodasletras.com.br/cartas/3403862

GLOSSÁRIO KALAALLISUT:

Aluu - olá.

Inuugujaq - boa tarde.

Ajuungila - Como estão?

Qujanaq - obrigado.

Takuss' - até mais.

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 26/03/2021
Reeditado em 23/05/2021
Código do texto: T7216593
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