Correr riscos para viver melhor

Correr riscos para viver melhor

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Me convidaram para dar uma palestra em uma escola pública da periferia. A classe era do ensino médio (antigo 2º grau), noturno. Isto significa que quase todo mundo tinha ocupação. A maioria trabalhava, algumas cuidavam da casa para os pais trabalharem. Pessoas lutadoras, a exceção de dois ou três. Eu gosto de gente assim. Este é o primeiro passo para as pessoas crescerem econômica e espiritualmente.

Em dado momento da palestra pedi para eles me mostrarem seus celulares. Todos levantaram as mãos, mostrando celulares caros, já que eram símbolos de status. Então eu falei: “estes celulares são o símbolo da pobreza econômica futura e da pobreza intelectual no presente”. Eles ficaram me olhando com aquelas risadinhas típicas de adolescentes. Como eles não entenderam falei novamente utilizando termos bem mais duros. Pedi para eles me escutarem, já que poderiam aprender algo comigo. E arrematei: "poderia estar em muitos lugares agora. Se escolhi estar aqui é porque quero lhes falar de algo que pode lhes ajudar”. E a palestra continuou ...

Vamos aos dados de realidade:

- A maioria deles ganha até 800 reais/mês. Os celulares em questão custam bem mais do que isto.

- Para gastar mais do que um salário em um bem de consumo é porque se dá muito valor ao bem.

- Mais do que isto: eles acreditam que precisam daquele bem e que sem ele a vida ficará pior.

- O diferencial entre um celular de 90 reais e um de 1000 reais é o status que ele proporciona. Ou seja, o celular passa a ser uma forma de “dizer” quem a pessoa é. Esta capacidade de comunicação é transferida do indivíduo para o bem de consumo.

- Como a maioria tinha celular de 1000 reais (assim todos eram mais ou menos iguais), há a necessidade de valorizar outros símbolos de status, já que o status serve para diferenciar as pessoas. Cada símbolo deste significa mais dinheiro investido na manutenção do status.

- Como o ganho destas pessoas é limitado, a capacidade de ter símbolos de status é muito limitado. Portanto, a baixa auto-estima é a conseqüência lógica desta escolha na vida.

- Ou seja, trabalha muito, investe muito nestes símbolos e consegue pouquíssimo resultados.

- As fábricas de celulares e as operadoras aumentam seus faturamentos e eles perdem oportunidade de investir. Esta é a regra da humanidade: quem cria as necessidades fica rico e recebe as melhores recompensas sociais. Quem acredita nestas necessidades fica pobre, sem auto-estima, sonhando com uma vida diferente.

Dito isto vamos à solução:

a) não acredite nos símbolos de status. Ou seja, aceite o risco de não ser “fashion”, "da moda" "poderosa". Quem exigir de você algo que seja alheio às suas qualidades pessoais estará querendo te desviar de um bom caminho. Portanto, aceite perder.

b) aceite que de início estas pessoas que buscam status pareceram “estar ganhando”, pois é muito mais simples comprar um celular, do que investir para ter uma casa (por exemplo).

c) aumente sua auto-estima procurando saber claramente quais são as suas qualidades e faça propaganda delas.

d) saiba tolerar a frustração. A maior parte das pessoas exige menos de si, pois é uma forma de atingir o alívio. Fique esperto. Esteja pronto para sofrer naquilo que é realmente importante: ter uma habilidade e fazer muito bem feito, superbem feito, o que se quer fazer. Para isto deve-se estudar muito, várias horas por dia e praticar bastante. (pode-se sofrer porque não tem a calça de tal marca ou porque está estudando física. Qual é a melhor opção?)

e) saiba que os anos passam e que quem escolher um caminho que promova as habilidades pessoais será muito bem recompensado. Isto se aprender a fazer bem feito e se estudar muito, muito mesmo.

Dei um exemplo de uma pessoa que eles conheciam:

Esta pessoa trabalhou como eles, só que investiu seu dinheiro contratando um professor particular que lhe incentivava e o orientava nos estudos. Ficou mais pobre que os amigos durante vários anos, já que o dinheiro que ganhava era destinado a pagar este professor e os livros. Ele também tinha menos tempo para se divertir, já que estudava bastante. Este esforço durou alguns anos (5 precisamente). Nestes 5 anos ele teve de tolerar a frustração de: ser mais pobre que os amigos, ter menos tempo que os amigos, ter menos status que os amigos. Devido ao seu esforço bem orientado, ele entrou numa ótima faculdade pública. Estudou muito; e finalmente as menininhas do bairro começaram a se interessar por ele. Ele se formou, conseguiu um ótimo emprego, começou a ganhar muita grana. Comprou casa boa, carro bom, roupa boa, foi a bons restaurante, não porque eram símbolos de status, mas porque tinha dinheiro o suficiente para ter tudo isto. Ou seja, ele passou a usufruir dos benefícios referentes aos 5 anos em que foi mais pobre, porque investiu no lugar certo.

Durante décadas ele vai ter, como já tem hoje em dia, muitas mulheres interessadas nele, e o que é melhor: tem auto-estima e uma vida boa. Isto é muito melhor do que ter status.

Foram alguns anos desenvolvendo o que realmente era importante, tolerando a frustração de supostamente ser pior do que outros. E várias décadas colhendo deste fruto.

ELE ACEITOU A PERDER E AGUENTAR A FRUSTRAÇÃO DE NÃO TER AQUILO QUE A SOCIEDADE DE CONSUMO VALORIZA.

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