Babaco

Babaco

Corre aqui meninos, vou ensinar-lhes a fazer e soltar cangula! Aquela manhã de Julho prometia, manhã de vento quente, vento forte, como são os ventos do Norte, vento que propicia a subida leve da pipa, que o Babaco chamava de cangula e que cangulas! Aquelas mãos hábeis de dedos longos e finos, sabiam fazer! A bichinha era tão “catinha” que requebrava no ar, pequenina e bela, passeando com o vento, pra lá e pra cá.

A alegria era contagiante, Marcelo e Eu, ficávamos maravilhados ao ver o tio, da brancura do Europeu e os cabelos lindos e encaracolados do negro africano, mistura forte de seus belos descendentes, cortar o miriti e arruma-los em forma de cruz pequena, com a linha, realizava entre as talas, uma ligação quase que espiritual, cortava o papel de seda e o colava sobre as talas e para finalizar, unia pequenos pedaços de pano que mais pareciam pedaços de nuvens em forma de tiras que acabavam formando o rabo da pequena cangula.

O jovem tio se regozijava feliz ao ver os sobrinhos explodindo de alegria ao empinarem a pequena cangula, erguida pelo vento e tremendo que nem vara verde.

A manhã virou tarde e passou tão rápido, como o jovem tio, que, num dia qualquer dessa vida de meu Deus, precisou vestir-se de cangula e voar para o céu, precisou estar mais perto das nuvens, precisou sentir o vento a tocar-lhe a alma com mais força. Precisou voar para o céu, porque, de lá, ficava mais fácil de resgatar as cangulas que por desventura, quisessem voar sozinhas ao partirem-se das linhas que ainda as ligavam ao solo, daquelas frescas, belas e saudosas manhãs de julho, onde o menino grande soltava suas cangulas.

Tony Monteiro.

03/04/2021.

Tony Monteiro
Enviado por Tony Monteiro em 03/04/2021
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