As irmãs Baão

Aluu! Inuugujaq meus 23 fiéis leitores e demais e demais 36 que de quando em vez passam aqui por essa minha biblioteca histórica para ler crônicas bíblicas. Ajunngilla?

Tuzes já ouviram falar nas irmãs esquecidas pelas crônicas bíblicas, Joebaão e Jeobaão? Não? Puxa vida, mas tuzes não sabem de nada, mesmo. O que seria de tuzes sem este erudito Bacamarte a lhes amainar a ignorância acerca da História Universal? Vamos lá, então. Preparem-se para mais uma crônica (na verdade, um conto) genial.

Jeba e Joba, como eram apelidadas as irmãs Baão, eram gêmeas idênticas, mais parecidas do que duas notas de três reais brasileiros. Filhas de Jeroboão com uma princesa egípcia, do período em que ele se escondeu de Salomão debaixo das saias do faraó, quando ainda não era rei de Israel, as meninas foram criadas soltas, feito cabras xucras, subindo e descendo pirâmides e nadando no Nilo com seus irmãos, Abias e Nadabe.

Essa história tem início quando o jovem e impetuoso Jeroboão começou a conspirar contra Salomão e esse, usando sua famosa sabedoria, pensou em dividi-lo ao meio, como no caso do bebe. Bom, ele não achou isso sábio e foi se exilar no Egito, onde o pessoal já havia esquecido aqueles lances das pragas e do Mar Vermelho. Quem vive de passado é museu - diziam os egípcios, sem saber o que os milênios futuros lhes reservavam. Pois um dia lá está Jeroboão vadiando no palácio do faraó e, assim como o rei Davi com Betsabá, colocou o olho numa bela banhando-se no Nilo. Perguntou pro faraó:

- Quem é aquela?

- É a minha cunhada, Ano. Tá a fim? Pode pegar pra ti e depois levar pra Israel.

E Jeroboão pegou mesmo, pois desde os tempos de Moisés que judeus e egípcias dão liga - ah, essas egípcias, a verdadeiras dádivas do Nilo. Levaria dez anos para "Jereba" - Ano o chamava assim, carinhosamente - deixar o Egito, tempo em que deu pra fazer os dois filhos e as gêmeas, curtindo a vida adoidado.

Voltou quando Salomão morreu e assumiu o trono como primeiro rei de Israel, reino agora separado de Judá, onde se localizava Jerusalém, que ficou sob o controle do filho do falecido. Joba e Jeba passavam o tempo lendo, pois gostavam muito de literatura, ainda mais depois que descobriram que o hebraico era mais fácil de ler e escrever do que os infindáveis hieróglifos. Obviamente que, sendo filhas de um rei judeu, começaram a ler os pergaminhos com os textos sagrados que, séculos depois, comporiam o que hoje conhecemos como bíblia.

Era um tempo de flexibilidade religiosa em Israel, sendo seu pai bastante tolerante nesse sentido, dizem que até em demasia, por influência de Ano - ah, essas egípcias viravam a cabeça de um homem. Então as gurias tiveram uma ideia que lhes pareceu muito boa: reescrever os textos sagrados, alterando umas coisas, suprimindo outras, acrescentando algo, indo do Gênesis e chegando até Salomão, ao presente, onde passariam a escrever uma obra original, então. Um mega empreendimento literário que muito animou as meninas. Quando elas disseram que iriam contar nos pergaminhos o escândalo que foi o caso de Davi com Betsabá (ela era casada com um militar, Urias), pais de Salomão, Jeroboão adorou e deu apoio total a empreitada das crias. E assim fizeram e os pergaminhos bombaram, sendo os rolos publicados em partes! Todos queriam ler as novelas de Jeba e Joba, as gêmeas Baão, filhas do rei.

Já haviam escrito até a morte de Saul, mas com o falecimento do pai, em 909 aC, resolveram ir com a mãe visitar uns parentes no Egito e navegar pelo Nilo, interrompendo o trabalho. Foi o que lhes salvou o pescoço, pois dois anos depois de seu irmão Nadabe assumir o trono, ele e todos os seus parentes foram assassinados num golpe de estado. A lembrança das meninas, com o passar dos séculos, sumiu da história. Devem ter vivido bem, nos palácios, perto dos camelos e longe das espadas. Mas os pergaminhos ficaram...

Filo de Alexandria, famoso historiador judeu do primeiro século, quase mil anos depois, possuía os rolos com a única cópia completa que restara, entre seus pergaminhos. Quando faleceu, em 49 dC, o seu discípulo e herdeiro intelectual viu aqueles rolos e resolveu fazer uma versão com comentários atualizados. Uns meses depois, levou a cópia do mestre para estudar, mas deixou sua versão entre os papéis de Filo, para finaliza-la quando voltasse, colocando a introdução, conclusão e assinatura. Pois o mesmo morreu em viagem, num naufrágio, perdendo-se todos os pergaminhos que levara, inclusive a novela bíblica das irmãs Baão.

Quando foram recolher os textos de Filo em sua casa, encontraram aquela versão sem autor e pensaram tratar-se de um texto inacabado do mestre. E assim nasceu o hoje conhecido Livro das Antiguidades Bíblicas, por muitos séculos com autoria atribuída a Filo de Alexandria. Desde o século XVIII os historiadores, através de profundos estudos sobre estilo da obra, já sabem que não seria ele o autor. Logo, há tempos que a obra é dita como sendo de Pseudo-Filo, eis que ignoram o seu real autor.

Na verdade, não é autor, são autoras, Joebaão e Jeobaão, as gêmeas Jeba e Joba, as irmãs Baão, as filhas de Jereboão e Ano, como lhes relatei hoje. Como sei disso? Ora, sei lá, vai ver é inspiração divina. Esse Bacamarte é um escritor de outro mundo!

Qujanaq por terem dado uma passadinha por aqui hoje. Takuss"!

----- * -----

Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

MAIS TEXTOS em:

http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina

Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".)

CARTA ABERTA aos meus 23 leitores: https://www.recantodasletras.com.br/cartas/3403862

GLOSSÁRIO KALAALLISUT:

Aluu - olá.

Inuugujaq - boa tarde.

Ajuungila - Como estão?

Qujanaq - obrigado.

Takuss' - até mais.

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 09/04/2021
Reeditado em 11/04/2021
Código do texto: T7227976
Classificação de conteúdo: seguro