Um Adeus Para Angela

Um dia viajamos juntas. Curta viagem de passeio, mas passamos um dia inteiro tagarelando. Gostávamos das mesmas coisas, tínhamos um curso que fazíamos em comum. Saímos pela pequena cidade, explorando-a. Entramos na igreja para conhecê-la, a admiramos e conversamos sobre religião. Ela não era católica, porém, sem nenhum preconceito, trocamos idéias sobre nossas crenças como duas pessoas adultas e cultas. Entramos nas lojas, compramos coisas inúteis e falamos abobrinhas. Depois nos divertimos nos pontos turísticos, com as belezas pitorescas do lugar esperando a hora para tomarmos um dos melhores cafés coloniais do sul do país.
Em algum momento do ano seguinte ela perdeu seu companheiro de vida para uma doença atroz, não antes de lutar bravamente ao seu lado até o fim.
Esperamos que ela voltasse para nosso convívio semanal, evitando falar sobre coisas tristes e confeccionando coisas bonitas especialmente para alegrá-la. Algumas vezes ela precisou falar sobre a terrível provação pelo qual passara e a ouvimos atentamente com carinho e amizade. Em outros momentos falávamos sobre filhos, netos, cachorros e a vida.
Nosso grupo de amigas do artesanato foi separado pelo distanciamento social provocado pela pandemia no início de 2020. Nos comunicávamos pelo grupo das patchworkeiras quando um ano inteirinho se passou, assim, começando bem e terminando mal para milhões de pessoas.
E um novo ano começou, acirrado no distanciamento, levando embora a esperança que talvez, por ser um novo ano, fosse diferente do anterior e magicamente melhor. De repente veio a notícia que ela havia sido internada, atacada pelo bichinho facínora e perverso, invisível a olho nú, mas que se multiplica e vira gigante como que por encanto destruindo tudo por onde passa. Um dos filhos, atencioso e esperançoso nos enviava informações da sua progressão ou talvez...regressão. Rezamos de mãos postas e esperamos pelo milagre da medicina e da vida, afinal, muitos vão e retornam. Ela não retornou, fiquei sabendo a pouco ao chegar de viagem e chorei. A gente fica com medo quando pessoas próximas começam a partir sem se despedir, porque, enquanto acontece com os desconhecidos, tudo bem, ainda não me atingiu, no entanto, quando chega assim perto, ficamos pasmos, paralisados e boquiabertos. Minha amiga deixará saudades e na saudade para sempre ficará.
Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 14/04/2021
Reeditado em 17/04/2021
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