Relatos arrasadores! (...)

Ela ia me relatando

eu concluía que a importância falada

era terrível, tinha alguma coisa

que se referia à esses nossos tempos

Ao concluir sua biografia, não contava que alguns de seus relatos conseguia mexer tanto comigo, naqueles tempos e consequentemente nos tempos de agora, minha mãe ia me descrevendo:

--- naqueles tempos a gripe espanhola se alastrava, difícil o lar que não tivesse seus mortos. Os funerais por causa de serem muitos e não tinha caixão, os defuntos eram transportados, enrolados num lençol, atravessado com um pau, levados para a cidade de Carmo de Minas (naquela época chamava Silvestre Ferraz) era muito triste, meu filho, essa epidemia, muitos pensavam ser o fim do mundo. A sua bisavó, que era minha avó, fazia mingau de fubá com ovo e distribuía aos vários doentes, seu bisavô andava pelos matos, colhia ervas medicinais. Com isso eles abrandavam um pouco os sofrimentos que destruía muitos lares.

---Há mãe! Essas coisas aconteceram a 100 anos atrás, hoje em dia existe o controle, a ciência está adiantadíssima, muitos remédios à disposição, muitas doenças em extinção, rsss... (fiz uma leve crítica aos tempos passados) nunca mais a humanidade precisará temer moléstias que possam aparecer.

--- Lourenço, meu filho, (ela continuava firme nas suas colocações) eu não contradigo o valor desses tempos adiantados, vejo que você põe muita fé na ciência, mas devemos sempre pensar que até esta ciência está tudo sob o controle de Deus. Muita coisa pode ainda acontecer, não se esqueça de que essa vida é um mistério!...

Eu ia falar pra minha mãe que pior do que a Gripe Espanhola foi a Peste Negra, que dizimou muitas vidas na Europa, alguns séculos antes da época desta epidemia de 1918. Cada vez mais ia acumulando cadáveres nas ruas. O que a medicina faz agora seria ficção nesses tempos.

Minha mãe sem perceber meus pensamentos sobre a Peste Negra, ia continuando os relatos.

Lourenço, quanto mais adiantado o mundo se tornar, ele pode não estar preparado por doenças terríveis que possam aparecer. O que vale meu filho é o amor de uns pelos outros, praticar a caridade quando o mal atacar o ser humano.

O tempo passou, minha mãe, Maria Vitória ficou bem velhinha e aos 100 anos de idade partiu para a Pátria Celeste, onde não há peste, sofrimentos arrasadores.

Nos tempos de agora me caiu a fixa, ao lembrar de suas palavras, de que por mais avançado que o mundo possa estar, ele não estará preparado no que pode acontecer. Minha mente fervendo lembrando dessa pandemia, realmente quando os homens da ciência pensam que a batalha se aproxima da vitória, o covid 19, que teria de chamar: covid 20, covid 21 e torcermos pra não ser covid 22.

Eu aliviado porque já tomei as duas vacinas do Coronavac, depois alguns jogam uma ducha de água fria dizendo:

--- alguns que vacinaram pegaram covid!...

Só me resta tranquilizar e outros muitos sãolourencianos também, porque o nosso hospital, está lutando pra valer nessa batalha indômita, lá os médicos, enfermeiros, funcionários em geral, até mesmo no meio desse perigo terrível, cheios de amor, conseguem amenizar essa dor.

Eu lembrando olho pro Céu e repito:

--- é verdade, mãe, só através do amor qualquer batalha feroz será vencida.