CRÔNICAS DA CIDADE- 15
AUTORRETRATO
Nasci com o dom inato para muitas coisas,mas quis o Universo que eu fosse ser na vida um poeta moderno da palavra, e não um microcéfalo da religião mercantil e vigente.
Foi o que aconteceu.Nasci no dia 3 do mês onze de 1969,coladinho ao dia de finados,talvez isso explique não ter nenhum receio da face lívida da morte que rodeia como um leão a nossa vida.
Começei minhas garatujas em versos sem mentor e sem noção.Fazia de poucos recursos muitas coisas,os meus versos eram toscos e incautos em folhas de cadernos escolar,em papel de pão e até em paredes brancas do quarto.
Mas,com o passar do tempo abandonei as minhas garatujas,guardadas em um velho baú.Quem sabe,algum dia,não retorne a estas para rever aquele adolescente ingênuo e sem ideia de que o mundo iria transformá-lo no melhor que podia ser.
Mas enfim,deixei meus rabiscos e fui transar com as ideias dos poetas e escritores,que loucura foi essa época,dormia de dia,escrevia no ventre do silêncio da madrugada e sonhava muito perambulando acordado num mundo de palavras.
A vida traiçoeira nos empurra para outros desígnios.Ainda jovem,tentei o futebol na Portuguesa como goleiro.Mas um boy bom de bola à beça,aos 44 do segundo tempo,chutou rasteiro e indefensável no canto de meus sentimentos!
Depois disso,arrisquei outras paixões .Tentei o conúbio,na paixão daquela que era mãe solteira,mas nao vingou.E,por fim,tentei viajar numa religião côsmica mais pedi parada e desci antes da estação para embarcar em outra viagem!
Ao escrever está crônica,fui pesquisar no "pai dos burros ou inteligentes",as palavras 'microcéfalo' e 'autorretrato'. No novo acordo ortográfico , o título se escreve junto e com dois RR e não com um R como antes.
Já,a outra palavra em sentido figurado quer dizer:uma pessoa carente de inteligência ou um idiota.Eu nasci com um dom inato,mas hoje sou um poeta moderno da palavra,um poeta sem eira nem beira ,mas com bandeira...