Brasileiros na Pandemia
— Olha quem tá aí! Senta aqui com a gente, cara!
— E aí, Maurício, e aí, Flavinha, tudo bem com vocês?
— Tudo bem, Rodrigão. Andou sumido, hein?
— Pois é. Estava tudo fechado até esses dias, né?
— E não é? Eu e a Fla só saímos de bobeira e por sorte encontramos essa lanchonete aberta.
— Esse Corona já encheu o saco, pode crer.
— Eu vivo dizendo que não há motivo pra tanto desespero, mas o povo é burro, fica caindo na conversa de políticos de esquerda. A vida tá andando como sempre andou.
— Tá bebendo o quê, parceiro?
— Pô, Rodrigão, você sabe que eu só bebo a especial.
— Sei… E eu já tô com a garganta seca, cadê o garçom?
— Molha o bico aqui no meu copo mesmo, até o garçom aparecer.
— Valeu…
— E o trampo? Como anda?
— Nem te conto, Maurício. Tô parado tem umas duas semanas. A mulher do meu chefe morreu de Covid, e o filho dele tá entubado. Por isso ele decidiu fechar o escritório por uns dias, não tem clima pra nada.
— Nossa… que triste.
— Triste é, Flavinha. Mas vai fazer o quê? A mulher dele morreu porque tinha doença crônica, e o filho tá nessa situação porque é um baita obeso, esse tipo de gente não aguenta porra nenhuma.
— Por falar nisso, você ainda faz academia, Rodrigo?
— Sempre. E no período de lockdown, eu corri na praia. Andei tomando algumas broncas dos policiais, mas não deixei de me exercitar.
— Saca só! Hoje é dia da galera se encontrar mesmo! Chega aí, Pedrinho!
— E aí, Maurício, Flavinha, Rodrigão… Beleza, gente?
— Senta aí, cara, senta aí, Luana.
— Que vestidinho escandaloso é esse, miga?!
— Gostou, Flavinha? Comprei em uma promoção.
— Muito top!
— Dá uma bicada aí, Pedrinho. O garçom daqui parece que tá na lua.
— Hum… essa é da boa!
— Esse sorvete é do quê, Flavinha?
— De Pistache, uma delícia, quer provar?
— Quero sim, me dá só uma colherzinha, tô de regime.
— Puta que pariu, garçom! Até que enfim.
— Mais alguma coisa?
— Traz mais duas geladas e mais copos. Traz também uma porção grande de azeitonas.
— É pra já.
(Uma hora depois…)
— A gente tem que se ver mais, moçada. Vamô marcar um churrasco no domingo, só com a nossa galera, eu ligo pra rapaziada.
— Boa ideia, Maurício. A turma não se reúne pra valer faz um tempão.
— Amorzinho, a gente bem que podia fazer esse churrasco na casa de praia dos seus pais, dizem que por lá a fiscalização faz vista grossa.
— Então tá marcado, no domingo, beleza?
— Pra mim tá joia.
— Uhuuu!!!
— Vamô enche a cara!
— Um brinde!
— Tim-tim!
(Minutos depois…)
— Rodrigão, aquela ali é a sua irmã?
— É sim.
— Chama ela aqui.
— Fiuuuuuu!!! Rúbia!
— Quem é o rapaz que tá com ela?
— Sei lá, deve ser algum amigo novo.
— Conhece ele, Pedrinho?
— Não.
— Conhece ele, amor?
— Não. E você, Lu?
— Nunca vi.
— Ele também tá vindo pra cá.
— Caramba…
— Pessoal, melhor a gente colocar as máscaras.
— É verdade.
— Demorô.
— Ai, meu Deus, esqueci a minha no carro!
— Que merda…