Uma margarida como plano de fundo

Tenho paixão por fotos artísticas, principalmente aquelas que traduzem a alma da Natureza. E flores, claro, dispensam qualquer comentário, sobretudo porque sou mulher e não estou incluída no quadro de exceção. Tenho zilhares de fotos de flores em meu computador e tenho o costume de transformá-las em papel de parede e plano de fundo. Não são reais, eu sei, já foram, mas mesmo virtuais me deixam em contato com o belo, o divino, e suavizam sempre o meu dia, dando-lhe um colorido mais do que especial. Manias mesmo, coisa de qualquer ser humano mais ou menos normal.

Dentre tantas fotos que tenho, selecionei uma em especial e não consigo mais tirá-la do meu pc; uma margarida branca, cujo fundo é desfocado para dar-lhe maior expressão. E nem precisava, pois sua beleza inigualável traduz tanta poesia que fica difícil expressar somente com palavras; o que parece estranho, pois para que servem as palavras, se não para descrever o sentimento, o mundo? Isso prova que 'sentir' nem sempre pode ser verbalizado ou escrito, sentir é muito maior e transcende o significado que se tenha atribuído a qualquer palavra, esteja em que idioma estiver.

Mas o que tem de tão especial essa foto? Uma margarida branca, solitária, única, bela em essência, efêmera, especial. Acho que somos todos um pouco essa margarida, que solitariamente presenciamos a efemeridade da nossa existência, buscando cada qual unicamente as suas verdades, o seu projeto pessoal de felicidade, o encontro com a sua própria essência. Essa margarida eternizada em uma foto representa a presença de que Deus existe e está dentro de nós mesmos. Nascemos, desabrochamos e morremos e isso não é novidade alguma. Só que a pressa e a perda do foco de nossas vidas, nos deixam parcialmente privados do sentido da visão, em uma conotação mais ampla. Ver e enxergar fora e dentro da alma também. Enxergar o todo e não somente as partes; como se fosse possível dissociar a vida em partes ou seções. Somos o todo e nossa vida também o é; não existem divisões. Somos divinos, cada qual em seu grau de evolução, assim como a minha margarida singularmente bela e solitária.

Margaridas nunca são solitárias, mas esta é uma exceção e exceções existem. Também somos cada qual exceção em nossa existência; somos exceções de nós mesmos. Por isso somos tão raros, tão únicos, tão espelhos da noção de divindade que carregamos em nossos corações. Somos a presença divina, cuja existência é efêmera, mas não o suficiente que não nos permita viver em presença, amar em essência, ser a existência. A chave é somente a escolha, o livre arbítrio, que nos tira a venda dos olhos e nos revela uma nova possibilidade de viver. Viver para amar, para doar para ser você mesmo, sem desvios, atalhos; sem perder e se perder no caminho. Fazer da vida pura poesia e ter uma margarida como plano de fundo já pode ser um doce começo.