Crônica Amorosa

Embora as pessoas teimem em marcar uma data em seus calendários tolos e criem uma atmosfera (comercial) toda especial em torno dele, o amor não carece de um dia específico para ser reverenciado, ele simplesmente acontece fora de horas convencionadas e nos lugares mais insólitos. No ponto de ônibus, na faculdade, no ambiente de trabalho, na festa do amigo de um amigo, no clube, na rodoviária, na fila do banco e segundo as más línguas até em velório ele já foi e flechou. Existe a modalidade progressiva ou a fulminante, que atende pelo nome de paixão e não é lá muito confiável.

Nega-se a seguir rituais ou dogmas, muito ao contrário, ele é o sentimento mais sem cerimônia e ripongo que existe porque chega e parte ao seu bel-prazer. Pode ser mais ou menos volúvel dependendo do coração onde aterrissa, mas quando se muda de armas e bagagens é capaz de durar muito tempo mesmo com todas as intempéries dessa eterna aventura chamada vida.

É mais ou menos como se nos comunicasse: “Baixei e saravei”. Sim, o amor não é nada comportado, nunca pede licença.

Não é passível de ser afinado para mais nem para menos como as cordas de um violão, mas seus acordes sempre embalarão dois corações apaixonados. Aconselha-se que seja demonstrado mais que verbalizado, embora belos versos e canções românticas tenham sido escritos sob o efeito desse elixir. Mas, pensando bem, em um olhar amoroso cabe toda a poesia do mundo.

Amor é sujeito folgado, espaçoso. Paradoxalmente é invisível e mesmo assim ocupa todos os cantos do ser amante e amado.

É preciso estar atento porque seu nome já foi diversas vezes invocado deliberadamente para ludibriar, cercear e ferir incautos e incautas. Para escapar dessa arapuca é só lembrar que oprimir e sufocar sempre será qualquer coisa menos amor.

O melhor do amor não é tergiversar sobre o mesmo, mas exercitá-lo, pô-lo em prática começando por si próprio, e se possível de modo amplo e caridoso extrapolando o conceito grego de harmonia e perfeição, afinal foi dele que nascemos e por ele devemos nos nortear para atingirmos uma vida feliz enquanto estivermos por essas bandas.