Apenas um guaraná

Dona Teresinha... a senhora do quiosque de guaraná energético de um shopping aqui da cidade. Um senhora já com uma certa idade, mas cheia de disposição. Um dia desses estava saindo do cinema, já era tarde, e fui correndo pra ver se ainda estava aberto o quiosque de guaraná; ela já estava fazendo a contabilidade do final do dia, quase tudo já guardado. Eu imediatamente perguntei se já estava fechado e ela prontamente me respondeu : ' _Acabei de abrir pra você!' E lá estava o sorriso estampado nos lábios, acompanhado de um olhar doce. Fiquei bem mais feliz com o gesto do que propriamente com o guaraná que queria tanto tomar.

Enquanto o guaraná era preparado, fui ao toalete acompanhada de minha filha que logo me indagou: _'De onde a senhora a conhece?' Eu fiquei sorrindo e imaginando como responderia a sua pergunta, afinal, conheci, conhecendo! A pergunta era pertinente porque ela conhecia todos os nossos amigos e conhecidos, mas a dona Teresinha, não, essa ela não conhecia... Bem, para matar sua curiosidade respondi que conhecia, claro, do quiosque de guaraná, somente isso. É que ela foi tão simpática e amigável que, só faria isso para alguém mais chegado, alguém conhecido, um amigo, sem dúvida. Nós, eu e minha filha, sempre tomávamos guaraná juntas, porém, casualmente das vezes que estivemos lá, Dona Teresinha não estava, mas somente, das vezes em que lá estive sozinha.

Um acontecimento corriqueiro, comum, banal, sem dúvida. Nada de extraordinário, mas tudo de afetuosamente especial. O gesto da Dona Teresinha me fez pensar em tantos rostos quase anônimos com os quais nos deparamos todo santo dia. Rostos repletos de sorrisos doces e palavras de carinho que são tão importantes em cada dia de vida . O que seria de nossas vidas se essas pessoas não existissem? Fico imaginando, como seria a nossa rotina sem aquelas pessoas que nos auxiliam de alguma forma na realização de nossas tarefas mais comuns? É o garçom que nos sorri e já sabe o que vamos pedir; é o jornaleiro, o engraxate, o senhor da padaria, a atendente de uma loja... pessoas com as quais já nos acostumamos, mantemos uma relação de cordialidade e nada sabemos de suas vidas. Vidas, que , com certeza, são repletas de sorrisos e lágrimas, de angústias e alívios, de sonhos e desilusões... Vidas que muito nos inspiram, com pequenos gestos, sorrisos, palavras... Um comentário sobre o tempo, sobre o telejornal, sobre o custo de vida. Que diferença faz o assunto? São vidas e que estão indiretamente ligadas às nossas; à minha, à sua... Quantas Teresinhas, Marias, Joanas, Paulos, Pedros... Pessoas que adoçam as nossas vidas com um carinho especial, com um gesto especial; com solidariedade. E o que seria de nós sem todas elas? Eu, felizmente tenho a Dona Teresinha, que me faz sentir bem mais especial do que comumente sinto. E você?