Sherley

Quando ela passava, o mundo parava pra ver. Até mesmo eu, que já sou parado, parado ficava.

Nem passarinho cantava, nem cachorro latia.

Pois ela tinha um quê de qualquer coisa.

As mulheres farejavam o ar ameaçadas, os homens, entravam em cio.

Coisa baixa é homem no cio.

Mas ela não. Ela não era baixa. Ela era ela.

Ela tinha um quê de qualquer coisa.

Sua cor me dava fome, lembrava chocolate. Não que eu fosse chegado ao açúcar, mas por ela, gostava.

Pois ela tinha um quê de qualquer coisa.

Os homens olhavam suas ancas, sua abundância. Ela andava dançando, provocando.

Eu me limitava aos lábios. Era eles que me provocavam.

Era dali que saiam as juras de amor, o resto era detalhe.

Quem me dera, jurasse por mim.

Pois ela tinha um quê de qualquer coisa.

Seus olhos me buscavam. Eu sabia o que ela queria.

Ela me queria. Não como mulher quer homem.

Para ela, isso era pouco. Ela queria mais, ela queria tudo.

Queria ser meu tudo, e era. Eu só não sabia. (ou sabia?)

Pois ela tinha um quê de qualquer coisa.

Depois de me ter, me abandonava. Já estava satisfeita.

Sua satisfação era saber que era.

Nunca cheguei a toca-la, mas era tocado por ela.

Pois ela tinha um quê de qualquer coisa.

Confesso, gostava de ser abandonado por ela. Pois sua ausência me causava sua vontade.

Chamam isso abstinência?

Não sei das coisas, nem quero saber.

Sei dela, e isso já me basta.

Ela, que tinha um quê de qualquer coisa.

Hoje, vivo vagando.

De um olhar a outro, de uma boca a outra.

Mas não a encontro.

Nem quero.

Prefiro a lembrança.

Prefiro a dúvida do quê, do que qualquer coisa.

Tarciso Tertuliano Paixão
Enviado por Tarciso Tertuliano Paixão em 23/06/2021
Reeditado em 23/06/2021
Código do texto: T7285091
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