SURPREENDE MAS NÃO CHOCA. POR QUÊ?

O sonho de todo ogro é ser feliz sem ser obrigado a virar príncipe.

Claudio Chaves

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SURPREENDE pela espontaneidade. Mas não choca devido a representatividade.

EM TERMOS de imoralidade administrativa, desonestidade e despudor, além de uma incompetência incalculável e inqualificável, se não ganhar da maioria de seus antecessores, perder jamais o atual Presidente do Brasil irá.

POR QUE, então, a grande parcela da população – das mais diferentes classes, credos e de todas as regiões geográficas do País – que, incondicionalmente, o apoia, além de se manter inamovível neste propósito, é incapaz de manifestar publicamente qualquer crítica aguda às suas atitudes?

REPRESENTATIVIDADE e/ou similaridade.

POR MAIS convencional, previsível e romântico que seja [nos contos] o ogro se transformar em príncipe, o sonho de todo ogro é ser feliz sendo o que originalmente é: ogro.

NADA é mais cativante, gratificante e motivador para alguém que se sente incapaz de ascender e/ou se enquadrar às convenções impostas pela maioria do grupo no qual se encontra inserido (sociedade) do que a percepção/descoberta de que, a partir de então, isso deixará de ser uma obrigação para tornar-se apenas uma facultatividade ou, até mesmo uma contravenção. Ou seja, dentro desse novo paradigma, feio, asqueroso, criminoso, reprovável, inaceitável... é o ogro, para ser feliz e aceitável, se obrigar a virar príncipe. Em outras palavras, nada mais autêntico, nesse novo paradigma, mais natural, mais saudável, elogiável, benéfico e desejável do que o ogro ser sempre e cada vez mais o que sempre foi e quis ser: ogro.

O QUE torna praticamente inabalável a amálgama entre o Presidente e seus devotos é exatamente o fato de eles não se enxergarem como eleitores [e, por isso, em certo sentido, seus superiores] mas, como acontece, em regra, no comportamento do adorador em relação à entidade adorada, como, além de defensores, uma extensão do próprio ou, como no relato divino da criação do homem: a imagem e semelhança do “criador”. Há perfeita simetria entre Representante e representados.

NO CASO em lide, o termo mais apropriado seria a “imagem e semelhança do libertador”.

O QUE essencialmente difere, em termos de malfeituras, o Presidente atual de seus antecessores não são os atos em si, mas a estratégia por ele e seus ideólogos adotada para lidar com os tais. Ao invés de, como seus antecessores, camuflar, lutar para sufocar ou converter seus mais primitivos, naturais e bestiais instintos e as mais reprováveis e repugnantes posturas na condição de homem público, cidadão e de ser humano, optou exatamente por publicizá-las, extravasá-las, escancará-las; porém, obviamente sempre afirmando e reiterando como o melhor e mais acertado a ser feito. Ou seja, no quesito transparência quanto ao que veio, ele continua sem concorrente.

A GRANDE recompensa dessa audaciosa e arriscada estratégia, porém, está sendo exatamente a “libertação” dos milhões de brasileiros – de todas as classes, crenças e regiões geográficas – que, noutros tempos, jamais sonharam com a possibilidade de viver em um mundo onde o errado seria curvar-se ante convenções sociais, leis científicas e protocolos (muitos de caráter universal) convertidos em regras legais, e o certo, guiar-se pelos seus próprios instintos, sem a preocupação de está sendo julgado, discriminado, censurado ou condenado por quem quer que seja. Para estas pessoas, o aparentemente impossível aconteceu: esse tempo chegou!

MAS e a Constituição, as outras leis, as instituições, o Estado de Direito?!

DE QUE vale tudo isso, ou por que, perder tempo com essas coisas, quando a outorga para o exercício do cargo independe dessas convenções e/ou consensos? Ou seja, por que se preocupar com parâmetros e instrumentos humanos quando se tem a chancela divina?!

CONCLUSÃO:

COISAS como: vulgaridade vocabular, desprezo aos princípios e instituições fundantes e sustentadores do Estado Democrático de Direito, agressividade, apologia à violência, ufanismo, demagogia, hipocrisia, populismo, narcisismo, misoginia, supremacia racial, egolatria, lgbtifobia, aparofobia, transfobia, machismo, anticientificismo, ultradogmatismo, obscurantismo, desprezo à empatia, megalomania, perfeitamente personalizadas na postura e materializadas nas ações do Presidente – o que comprovam seu mais absoluto complexo de inferioridade e incapacidade de lidar de forma proativa com tal frustração – até surpreendem os milhões de brasileiros que se identificam com tal espectro, porém nãos os choca – pelo contrário, os atrai. E isso acontece exatamente por se sentirem, a partir de então, encorajados e se assumirem publicamente como naturalmente são sem, por isso, serem considerados a maçã podre do cesto. Muito pelo contrário, agora eles se sentem o modelo, a nova referência de sociedade, que deverá se organizar e se desenvolver à imagem e semelhança deles.

SALVO os casos – que estão longe de ser raros – dos profundamente incautos e dos quase irremediavelmente ingênuos, o apoio e a defesa incondicional dos devotos do Presidente não é uma questão de informação ou conhecimento, mas de personalidade e caráter!