Eu vi demônios num dia de sol

Uma vez comentei com uma pessoa que meu pior momento é entre novembro e março. Quando o sol esquenta eu tenho meus piores momentos na vida. E é assim mesmo: as grandes crises estão por aí, e meus retornos à terapia se dão por volta de abril de cada ano também, depois de sofrer por alguns meses.

E me veio à mente hoje, enquanto penso em voltar para a psicoterapia. Liguei para a clínica as 10 da manhã e às 14 já imaginava uma desculpa para desmarcar. Vou ligar na quinta de tarde para desmarcar a consulta de sexta - hoje ainda é segunda. Mas é que comecei a sentir dor nas costas e lembrei de uma crise que me acometeu num mês de março. Era hora do almoço, e por costume eu caminhava pelas ruas do centro até faltar dez minutos e então voltaria para o escritório. Resolvi caminhar para mais longe, chegaria atrasado, mas fui. Dor nas costas, eu seguia remoendo coisas, uma tristeza e sensação de morte, de fim. Havia planejado meses atrás escrever uma carta de despedida, e sempre que imaginava meu fim sentia paz.

E a dor se transformava num demônio em minhas costas. Uma hora da tarde de um mês de março, um demônio sobre meus ombros e eu comecei a chorar. Chorei na calçada.

É uma imagem de tristeza que tenho de minha condição, dentre outras vezes que chorei.

Voltei em direção ao escritório somente para pegar minha carteira e ir para casa. Só queria sumir, buscar refúgio.

Que dia horrível. Pena que se repetiria outras vezes.

Ainda estou vivo. Bom? dizem que sim. Mas por outro lado tenho muita estrada ainda para chorar com um demônio sobre mim num dia de sol quente.