Expressando Minha Ignorância
 
Alguém aí conhece ou já ouviu falar em Malba Tahan?
Pois então! Como contadora de história que sou, ou pelo menos, eu me intitulo assim, já ouvi contarem inúmeras histórias de sua autoria. Porém, nunca me interessei em pesquisá-lo, porque nem sempre eu simpatizava com o que era narrado. Sou chatinha nesse sentido, se a história não me cativa eu a deixo prá lá. Algumas eu achava meio simplórias e sem graça, ainda que tivessem um fundo implícito de moral. Não gosto dessa coisa de ficar dizendo para os outros como eles devem se comportar. Cada um que tire o ensinamento que bem entender daquilo que ouve.
Mas, esta semana, vi e ouvi, pelo instagram, um conhecido meu, contador de histórias do Estado de São Paulo, contando um belo e interessante conto infantil intitulado “o castelo amarelo” e qual não foi minha surpresa ao escutá-lo dizendo que era um conto de Malba Tahan. Logo pensei em procurar o arquivo em PDF no google porque fiquei imediatamente interessada na história. E me lancei à busca para descobrir que não existe nada em PDF deste autor. Eis o mistério!
Eu estou careca de saber que se deve direitos autorais para autores ou editoras e é por isso que não gosto de contar histórias, como costumo dizer brincando, de autor “vivo” ou melhor, de autores que não caíram ainda em domínio público. O que, para mim, não seria o caso de Malba Tahan que provavelmente teria vivido há muitos séculos.
Achei os livros em sites de editoras, em lojas virtuais, em sebos, aos montes e eu nem sabia que havia tantos, mas nadica de nada para baixar gratuitamente e ele tem uma longa lista de histórias infantis. 
Verdadeiramente espantada com o fato do homem ter escrito algumas especialmente para crianças, continuei a busca para descobrir que ele foi nosso contemporâneo e que nasceu em 1895 e morreu em 1974 com quase oitenta anos vivendo aqui no Brasil desde sempre e eu tinha dezesseis anos à época em que ele morreu.
Como assim, ele se chamava Júlio César de Melo e Sousa?
Inconformada, descobri que o tal do Júlio César não só criou um pseudônimo, criou uma personagem com história própria e que ganhou vida na minha imaginação.
Para mim ele era um persa ou árabe que havia vivido no início da era cristã e que havia deixado seu legado registrado em pergaminhos ou couro de carneiro. 
Fui enganada direitinho, durante todo esse tempo e o senhor Júlio César conseguiu seu intento que sempre foi esse, de enganar as pessoas, quando deu origem ao tal Malba Tahan.
Entendi, claro, o porquê de não haver nada, em matéria de histórias, deste autor, para ser baixado de graça.
Fui dormir, ontem a noite, decepcionada e, ao mesmo tempo, estarrecida pela descoberta.
Mais alguém pensava como eu, que o tal Tahan teria sido um persa da antiguidade?
Por favor, não me deixem só diante desta revelação socrática de que nada sei!
A essas alturas seria afrontoso eu me sentir sozinha na minha completa ignorância.
O que me faltava agora, para receber a última pá de terra, seria descobrir que Nasrudin também nunca existiu.

 
Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 17/07/2021
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