Crônica de um fã

para Flávio Venturini

É interessante como nos apegamos a pessoas que nem sequer conhecemos pessoalmente; como conseguimos estabelecer com elas um vínculo tão estreito de amizade, de simpatia, de carinho... e elas nem chegam a ficar sabendo! Uma composição, uma música, todo um trabalho são mais do que suficientes para que isso aconteça. Parece mágica e não deixa mesmo de ser... A gente acorda com essa pessoa, ouvindo sua música, vai para o trabalho com ela, volta e torna a encontrá-la e com isso vai estabelecendo um grau cada vez maior de intimidade, afinidade, e um turbilhão de outros sentimentos que são, na maior parte das vezes, até indescritíveis.

Conseguimos até ficar dependentes dela... estranha relação essa. Músicas, sons, poemas, livros... alimentos da alma, elos com o carinho, com a alegria, com a tristeza, com a dor, com a solidão... são tantos sentimentos, tantas emoções, tantos motivos para gostar mais e mais e mais. Tomamos a liberdade de chamar pelo primeiro nome, como se fôssemos do círculo de amizade dessa pessoa, nos apoderamos um pouco de sua vida, sempre pública, para nos sentirmos mais perto, bem junto, ampliando a nossa sensação de intimidade com ela. Engraçada a relação tão próxima, tão íntima, vista sob a nossa ótica, mas tão inexistente para a outra pessoa. Ela tem uma vida repartida em zilhões de partes e nem sonha com tamanha desintegração! Tem a sua alma acalentando tantos sonhos, tantas ilusões... pode até sentir uma energia estranha e boa que a circunda, mas nem imagina. É o elo, o vínculo existente no mundo mágico dos sentimentos, dos sonhos...somos nós, fãs, não tão necessários ao poeta, ao cantor, mas sim necessariamente carentes de suas canções, suas palavras; de ilusões. A relação é invisível, taciturna, única, própria de cada coração sedento de emoções.