Tempo de mudanças

Para o bem ou para o mal enquanto houver vida nunca será tarde demais para coisa nenhuma. Digo inclusive para o mal porque caso se deseje cometer sandices o sinal sempre estará verde, com um pequeno detalhe: Haverá consequências. A vida não é um Carnaval em que tudo vira cinzas na quarta-feira. Se você avançar o sinal vermelho vem o guarda para te multar, e se não for ele vai ser o pardal.

No mais, em havendo persistência e saúde dá para se reinventar, repaginar e perseguir a felicidade que almeja a qualquer tempo, desde o início da idade adulta até o fim da vida. O livro Guiness de Recordes está aí para provar que façanhas aparentemente impossíveis são exequíveis. A pessoa não precisa ser nenhum iluminado para iniciar um projeto revolucionário em sua vida nem está impedido de mudar completamente de rota no meio do caminho começando provavelmente da estaca zero. Quem não conhece alguém que mudou de profissão muitas vezes até sentir-se feliz e realizado? Tive um amigo que largou o curso de Medicina no último ano quando se apaixonou pelo Direito e outros dois que fizeram o mesmo trocando a Odontologia por Direito, já formados e trabalhando a todo vapor. É como se a profissão de base fosse o Clark Kent mas eles só se transformam em Super Homem quando estão na pele da segunda profissão que os realiza.

A mudança pode ser de atitude ou de aparência. Tem também a geográfica, mas creio ser derivada da comportamental após intenso processo de raciocínio e ponderação. A de aparência depende mais de recursos financeiros se for uma alteração externa, mas a de comportamento é delicada. Alguns psicólogos afirmam que uma mudança de hábito definitiva demora até dois anos para gerar uma nova “marca mnemônica”. Eu, por exemplo, nunca consegui malhar por dois anos seguidos para ver a marca mnemônia nascer em mim e a serotonina jorrar tanto que ficarei viciada em malhar até cair, a pobre marca não conseguiu sair da prancheta, porém se o clichê estiver certo ainda terei muitas oportunidades daqui até o dia derradeiro. Livrar-se de um relacionamento abusivo igualmente é possível. Cada filete de energia terá que ser reunido para obter êxito, mas se der certo é a glória. O mesmo ocorre com a aprendizagem de novas técnicas através de cursos, tudo agrega, tudo soma. E quanto mais se treina mais se aperfeiçoa não importa a idade do sujeito. Por exemplo: Cora Coralina, a fantástica escritora mineira, começou a escrever com quatorze anos, porém seu primeiro livro foi publicado aos setenta e cinco anos tornando-se posteriormente um grande ícone literário. Um feito surpreendente.

No amor o panorama não é diverso, sempre dá para começar a se abrir para novas possibilidades e desenvolver o autoamor. Devagar e sempre, acarinhando-se e se sentindo merecedor de felicidade e plenitude, mesmo porque sem amar-se primeiro você não será passível de receber amor. Esse papo de “eu não te mereço porque você é boa demais para mim” é história pra boi dormir, é preciso livrar-se de pessoas desse quilate. Cada qual pode desenvolver um mantra pessoal para repetir, interiorizar e ajudá-lo a não perder o foco. E sobretudo, cercar-se de positividade seja qual for a sua religião (se é que segue alguma), pois vertentes religiosas variam muito, mas energia só há dois tipos, negativa ou positiva, e você não deseja receber a primeira. É o típico caso de “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, frase atribuída ao escritor espanhol Miguel de Cervantes. O importante é ter sempre em mente que a vida é um eterno campeonato esportivo e você precisa mudar a tática de jogo quando estiver perdendo e sobretudo não se acomodar.

Mas eu não gostaria de levar ao pé da letra a frase “nunca é tarde para mudar”. Realmente não é, mas pode não ser conveniente mudar fora do “timing”. Não adianta forçar a fechadura, e sim encontrar a chave para abri-la sem traumas. Mudei muito a esta altura da vida e prosseguirei assim alterando rotas para ver se encontro o pote de ouro no fim do arco-íris. Para quem já mudou tanto não creio que seja tarefa penosa. Recomendo a construção de edificações que cresçam para dentro do peito cercadas por jardins verdes e plenos de flores.