Poder da música

Música é vida, é arte, é companhia. O conjunto Boca Livre já cantava há muito tempo que “quem tem a viola pra se acompanhar não vive sozinho nem pode penar”. Bem melhor seria realmente saber tocar a viola (ou outro instrumento), mas já dá para sentir sua positividade e poderes curativos somente como ouvinte. Um professor que tive costumava dizer que havia uma música de Chopin para tratar cada doença da alma desde coração partido até depressão. Não para consolar, e sim curar, dar-nos asas para voar. E seguia receitando as composições de Chopin a qualquer um que desabafava com ele, chegava a ser engraçado. Parecia aquele pessoal do interior que trabalha com ervas medicinais do tipo que tem uma “garrafada” para todos os problemas.

A música atravessa a vida inteira com a gente, recebemos um buquê de estímulos auditivos até selecionarmos quais gostamos mais, então formamos algumas coleções e as carregamos por aí em nossos celulares. Sim, a tecnologia embutiu o radinho, a vitrola, o toca-fitas, os receivers e até os pendrives no exíguo espaço do nosso smartphone facilitando imensamente as nossas vidas. Adeus estantes de CD, ocupavam muito espaço (embora ainda tenha uma na minha casa que eu não uso).

É claro que os ouvintes-ostentação sempre vão existir, aqueles que “compartilham” seu gosto musical com todo mundo (quase sempre um gosto questionável) vide o motorista no engarrafamento com o volume no máximo (janelas abertas, é lógico) e aquele vizinho que insiste em mostrar ao quarteirão inteiro o quão a sua playlist é maravilhosa. Quem nunca passou por esses inconvenientes?

Realmente detestável, porque estilo nenhum agrada a gregos e troianos. Há público para tudo. Sou incapaz de criticar o gosto musical de alguém porque acho rude, mas meu grande espectro musical não abarca alguns estilos de jeito nenhum. De todo modo creio que se o músico leva a sério o seu trabalho e tem talento o resultado será bom não importando o gênero. Uma pena que nem todos se comprometam com a harmonia e qualidade das músicas nos dias de hoje. E espantosamente fazem sucesso, o que é incrível, mesmo que a fama dure somente quinze minutos.

Ninguém duvida que a música é um meio de transporte capaz de conduzir a sensações maravilhosas (e a outras nem tanto) como um tapete mágico. Eu sou uma que entro em transe: Viro criança, adolescente e lembro de coisas que normalmente não lembraria. Lembro onde e com quem estava quando escutei determinada música pela primeira vez, às vezes até me espanto com a riqueza de detalhes. A memória olfativa geralmente é muito intensa, mas em mim a musical prepondera. Já assisti filmes várias vezes seguidas somente por causa da trilha sonora e acho que todos já passaram por isso e depois ainda compraram o CD. Saudade dos tempos do CD físico, hoje praticamente extinto. Agora é só baixar o álbum escolhido no aplicativo musical. Só espero que o livro não tenha a mesma sina, pois sou saudosista e não gostaria de guardar todas as minhas memórias sentimentais numa maquininha mínima.

O mundo seria sem graça demais sem música, imaginem um encontro de amigos ou família sem música para animar. Os casais não teriam uma música para marcar o início do romance e não haveria essa diversidade maravilhosa de ritmos e instrumentos que inundam o planeta, é impossível conhecer todos os estilos que brotam em cada cultura. E a dança, o que seria dela? Dança sem música? Impossível. E por falar em variedade de povos, os acordes musicais dispensam o entendimento da letra para serem sentidos, portanto música é união, harmonia e fonte de felicidade. É como o olhar e o beijo, são elementos universais por toda a eternidade que nos tornam mais ternos e humanos. Até se sobrevive sem música, mas precariamente feito uma noite sem luar ou um deserto em toda sua aridez. Que bom contamos com a música para sempre.

Nilza Freire em 04/08/21.