Sempre haverá alguém

Hoje de manhã, me deparei com um texto, que muito me causou admiração ,pela temática abordada, pontos de vista claramente convincentes, entretanto ,algo me chamou atenção: o texto denunciava atitudes antidemocráticas e autoritárias de um gestor. No contexto ,havia críticas aos funcionários , que prestavam serviço na área de infraestrutura para esse gestor, talvez fossem contratados de uma empresa privada, de forma terceirizada, não sei. A frase dita pelos trabalhadores ,que me despertou atenção, foi a seguinte: " Nós estamos cumprindo ordem", quando interpelados por algum cidadão contrário à ação.

Refletindo sobre a situação ,me coloquei a pensar: quantas vezes nos colocamos no lugar desses funcionários, agindo de forma contrária à consciência, de forma contrária aos princípios éticos aprendidos, temendo sofrer consequências, demissão, intimidações , incompreensão e ameaças. Quase sempre lutar com instituições que detém o poder em mãos, é ter certeza de prejuízos gigantes. Então instala-se o dilema interior: até que ponto vale a pena lutar pela justiça e verdade ,em um mundo que impera a injustiça e a mentira?

A Bíblia é um livro que amo e admiro cada vez mais, pelo fato de revelar de forma escancarada, principalmente no Velho Testamento, todas as mazelas humanas: maldade, violência, criminalidade, desonestidade , traição, depravação sexual. É um livro que não omite o lado perverso e obscuro de seus personagens. Alguns exemplos, algumas atitudes relatadas ,nos mostra claramente como não agir. O que me chama atenção é que em todo contexto de podridão moral completa, destaca-se a atitude de alguns, pouquíssimos ,em se tratando de número, que com coragem e ousadia, desafia leis, regras que contrariavam os princípios divinos aprendidos, expondo suas vidas ao risco de morte.

Hoje quero relembrar uma passagem , registrada no livro do Êxodo, que conta a saga do povo hebreu no período de escravidão no Egito. Em um determinado tempo o rei ( Faraó) determinou a duas parteiras ,chamadas Sifrá e Puá ,que matassem todos os meninos israelitas do sexo masculino que nascessem, durante aquele período, pois temia que o número de israelitas aumentasse de forma desordenada, durante o exílio, e em caso de guerra, pudessem ser derrotados. Porém aquelas parteiras , negligenciaram as ordens de Faraó, preservando a vida das crianças. Imagina que risco correram ao tomar tal atitude!! Fiquei pensando ,e se elas repetissem a fala dos trabalhadores : " estamos cumprindo ordens". Não teríamos a brilhante história de um dos principais personagens bíblicos: Moisés, e de tantos outros.

Percebo que pouco a pouco , vamos nos acovardando , talvez inconscientemente, amordaçados sutilmente , intimidados por armas veladas, e o pior, às vezes nos sentindo confortáveis na situação e até enaltecendo as atitudes do opressor. E as causas humanitárias vão sendo deixadas de lado, o egoísmo nos consome e só queremos lutar por interesses próprios, ideologias pessoais. Quanto à causas coletivas , atitudes cidadãs, nos omitimos e em alto e bom som dizemos: " Não tenho nada a ver com isso". Preferimos não nos comprometer, não denunciar, não expor em nome da nossa sanidade mental e paz de espírito.

Só nos esquecemos que viajamos no mesmo navio, embora em compartimentos diferentes, hoje no nosso espaço está tudo tranquilo ,mas se de repente ,for detectado uma falha técnica ou humana grave no navio , todos afundarão.

Abigail Roha
Enviado por Abigail Roha em 09/09/2021
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