Eu Só Procurava Um Rímel Transparente

A idade chega a galope (como diria minha finada avó), montada num alazão veloz. 
Se você ainda não a viu, um dia a verá. Ela não passa despercebida.
Tanto é que entrei  numa farmácia hoje, de uma grande rede de supermercados, que eu sei que vende, pelo menos, duas marcas de maquiagem de boa qualidade, pois sempre vejo o mostruário logo perto da porta para chamar a atenção das clientes quando entram. Fui com o intuito de comprar um rímel transparente e já lhes explico porquê eu estou precisando de um disso, pois tenho que reconhecer que para mim a idade chegou. Mulherada há de convir que a crueldade da natureza se instala, aos poucos, mas quando a gente se apercebe a coisa já se estabeleceu ampla e irrestritamente.   
Você começa a tingir os cabelos se não quiser parecer mais velha do que realmente é. Nem quero falar das rugas que passam a pipocar por todos os lados, por todos os lados mesmo!
E manchas, as minhas começaram nas mãos, pintinhas marrons, primeiro um trio, agora um quinteto. E voltando a falar de cabelos, alguns começam a cair, além de embranquecer, outros ficam extremamente revoltados, não vou citar todos, mas tipo: os pelos das sobrancelhas cheias de falhas que eu tento esconder com um lápis e pentear com um rímel transparente para que fiquem alinhados.
É para isso que eu estava precisando do bendito rímel.
A vendedora da farmácia se aproximou quando me viu parada diante do mostruário e, depois de olhar e não encontrar o que estava procurando, perguntei se, por acaso tinha. Não tinha, mas ela me ofereceu creme com ácido sei lá do que para manchas, creme hidratante para pele seca, relaxante que vem com anti-inflamatório para as dores nas articulações e por último aparelho de medir pressão arterial em promoção.
Com pressa eu respondi que não queria nada daquilo e saí para fazer algumas compras, quando parei para pegar o carrinho foi que minha ficha caiu para o fato que a rapariga me achou com cara de velha. 
Em casa fui me olhar no espelho, esse inimigo necessário e imprescindível, apesar de fiel, me perguntando se está tão óbvio assim e lembrei que outro dia um moleque marmanjo me chamou de vó. Eu que nem neto tenho senti vontade de gritar-lhe que vó era a avó dele, não eu.
Terei que procurar um rímel transparente em outro lugar e sei que vou achar, pois faço uso há muito tempo e, enquanto der vou disfarçando, com a ilusão que estarei driblando o tempo e enganando as moças observadoras e as más vendedoras. Para mim ela não conseguiu vender nada, coitada, até porque, eu já tenho tudo aquilo que ela me ofereceu, inclusive o aparelho para medir pressão arterial.


 
Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 17/09/2021
Reeditado em 22/09/2021
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