SENSAÇÕES

Ouço vozes espalhadas por minhas veias, pressinto diversos odores. Pulsam dentro de mim os mais variados sons. O vento assovia uma canção, dura, seca, um grito talvez desesperado de quem vê o que não é visível. Na rua sem vida, vidas que se cruzam nas idas e vindas sem destino certo, seguindo um destino traçado por mãos alheias.

"Meu destino" é um equívoco. Não tracei, não escolhi nem posso me desvencilhar, marcado a ferro no ponto mais inacessível aos meus olhos. Dele nada sei, nem se o é de fato.

Ouço rugido de motores, cheiro o diesel queimado e pútrido de animais inanimados guiados por mãos de animais racionais, irracionados pelo que é inanimado mas rege a ordem da vida animal racionalizada.

Confusão? Conflito de idéias, sangue adulterado pela mistura (i)racional do que é ou não natural e saudável à vida que dizem ser minha.

"Minha vida" também é um equívoco. Não a tenho em minhas mãos, não sou dona de algo sobre o qual não possuo pleno controle, como me veio, pode me ser tirada. No máximo me foi gentilmente cedida, e do uso que faço dela depende se segue ou expira.

E EU sigo sem certezas, repleta de marcas, de vincos, de interrogações e falsas prerrogativas que me concedem intencionalmente a fim de que eu me sinta metaforicamente dona do próprio nariz. Este sim é meu. No sentido mais exato e real. Posso mandar arrancar, ou ornar-lhe com pingentes. E metê-lo onde bem entender.

Ou simplesmente respeitá-lo como um bem único e intransferível, e deixar que me ajude a descobrir aromas e sensações que me façam sentir viva e dona de mim mesma. Mesmo que eu não o seja.

Já estou humanamente habituada à ilusão.

A crueldade do que é real fere mortalmente o SER humano.

Monica San
Enviado por Monica San em 13/11/2007
Código do texto: T735777
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.