Janelas

Janelas são quadros emoldurados pelo mundo, assim como quadros são janelas para a alma do pintor de sensibilidade profunda. Uns são realidade, outros, ficção, porém há cenários nas janelas da vida tão selvagens que preferivelmente deveriam ser quadros aprisionados em caixas herméticas onde ninguém as contemplasse. Mostram cenas lastimáveis que, uma vez enquadradas deveriam ser congeladas e remetidas para o mais longínquo dos países frios onde permaneceriam para todo o sempre. Assim como a maioria das manchetes dos jornais, encaixadas no devido formato quadrangular, deveriam refletir um mundo menos frio, menos sórdido e sombrio, não este lugar. Fiquemos, pois, com as pinturas realistas e abstratas com suas infinitas variáveis que aos olhos são um banquete, em suas texturas, incontáveis cores nesta paleta que remetem a músicas e odores, sensações estas a que recorremos quando em estado de angústia, pesar ou lamento. Não é exagero supor que Monet ao som de Chopin é capaz de estancar até mesmo males de amor. Sei que há gostos e afeições por todo tipo de coisas, porém não pode haver sinal de monotonia onde há tanta poesia, portanto aceito com reservas a opinião de quem crê que a arte assim posta não lhe serve. O mundo carece de beleza, não da estética que aprisiona o corpo, mas sim daquela que é capaz de reciclar todo o globo, expressada pela clarividência da criatividade montada nas asas da liberdade apegando-se à crina desse corcel, com toda a vontade, alçando os céus de um azul surreal em telas sensacionais.