As Razões de "As Crises da Vida " *

* Texto extraído do livro "As Crises da Vida" ( Fragmentos de uma Existência) Novembro/2007.

A vaidade é uma qualidade inerente à condição humana. Poderia - com o risco de errar, por não ser especialista - afirmar ser também inerente à condição animal.

O que seriam os atos de exibição de força, poder ou beleza de certos

animais machos no espetáculo preparatório da conquista de suas correspondentes fêmeas, senão uma manifestação de vaidade?

Mas, situando-se no estrito campo da pessoa humana, a vaidade está presente em todos os atos do homem normal. Digo normal, referindo-me à pessoa de vida regular, integrante de um grupo social organizado, com valores a cultuar. Os marginalizados, os

dementes, os errantes, os párias, estes perderam as condições mínimas de aspiração de desejos e até sentimentos. Para eles, bastam as de sobrevivência, pois não têm o alcance de outros valores da vida.

E a vaidade é um valor da vida.

Não, a vaidade mórbida que leva ao orgulho, ao autoritarismo, à prepotência e ao menosprezo pelos humildes ou subordinados numa escala hierárquica, na eventualidade de um poder de mando.

Refiro-me à vaidade normal, ora transmudada no zelo pelo que se faz, na medida de satisfação dos desejos, anseios e necessidades, no sentido de fazer ou de agir como deve ser, sem exageros.

A vaidade de postar-se com dignidade e como tal ser reconhecido. De fazer o bem, pelo bem, sem ostentação; de ser magnânimo porque assim é o procedimento de quem exerce parcela de poder; de ser tolerante, porque a intolerância provém do equívoco em entender que os fatos da vida são derivados da falsa idéia de propriedade da verdade verdadeira.

Em suma, a vaidade em fazer o certo, porque assim é que deve ser feito.

Traçados esses parâmetros, considero-me um homem vaidoso. Elegi, ao ingressar na magistratura, a vaidade de ser um bom juiz. E creio haver cumprido esse desiderato, porque em todos os atos da judicatura, e durante trinta e cinco anos, sempre procurei aplicar a lei com equidade, distribuindo a justiça com o objetivo de atingir o ideal do justo.

Agora, ultrapassadas sete fases ou crises existenciais, a vaidade me levou a falar um pouco sobre elas, não para exaltar os feitos, que não os tenho, mas para que o registro das experiências vividas ou presenciadas, possam servir de exemplos aos que esperam viver tanto. Para demonstrar numa análise comparativa, que apesar do particularismo de cada qual, há o traço em comum na singularidade de certos aspectos de personalidade.

O garoto “botador d’água” que enfeita seu instrumento de trabalho com o fito de fazer dele o melhor e mais bonito, é o mesmo que projetado no tempo, vê-se honrado com a galhardia de um “Prêmio Eficiência” com o seu nome, instituído pelo seu Tribunal, para premiar os servidores que mais se destacaram durante o exercício.

O guapo rapaz de cabelos untados com brilhantina, no esplendor dos

quinze anos, é o mesmo velho moribundo a galantear a linda enfermeira que procura minorar sua solidão, por dever de ofício.

Ou por outra, o menino de mãos inquietas retratado por sua amada, no apogeu da maturidade, continua “ensinando a arte de viver e ser feliz” e “aprendendo que é importante envelhecer eternamente jovem”, como dito na outra bela mensagem por ela endereçada no limiar dos setenta anos.

Digressão feita vamos ao enfoque principal desta nota: as fases existenciais ou as crises da vida.

Devo fazer um esclarecimento: procurei o quanto possível não dar um

caráter de autobiografia aos relatos, no sentido usualmente considerado.

Não pude evitar colocar-me eqüidistante da narração de certos acontecimentos nos quais estive no epicentro, pois se o fizesse haveria distorção do fato. Mas se assim agi, não houve a intenção de valorizar a narrativa, mas apenas de completá-la ou esclarecê-la para melhor entendimento do eventual leitor.

A abordagem limita-se às reminiscências sem a preocupação de cientificidade ou de pesquisa nas fontes primárias.

Tudo é fruto do que ficou acumulado na memória, com o esclarecimento de não ser das melhores. Há, pois, falhas pontuais.

Outro esclarecimento é sobre a linguagem. Como não houve propósito

de escrever peça literária, adotei o estilo coloquial, porque acredito ser de melhor compreensão para o leitor comum.

Com perdão aos intelectuais, a mensagem que se puder extrair do contexto da obra dirige-se ao homem comum. A quem de alguma forma teve ou tem uma existência assemelhada à minha.

Igualmente, por não se tratar de auto biografia propriamente dita, adotei a forma de pequenas crônicas que se bastam a si próprias. Assim, não há necessidade de uma leitura seqüenciada. O leitor poderá escolher aleatoriamente qualquer uma delas e, após a leitura, continuar ou não sem obedecer à seqüência, caso o sono não atrapalhe.

Melhor explicando: não há continuidade da narrativa, ligando-se um fato a outro em obediência a um sentido cronológico.

O objetivo visado é o leitor, seja ele amante da leitura ou eventual trânsfuga das salas de espera ou dos tronos dos banheiros.

O autor

* Texto extraído do livro "As Crises da Vida" ( Fragmentos de uma Existência) Novembro/2007.

Biuza
Enviado por Biuza em 15/11/2007
Código do texto: T738093