Sociedade do Cansaço

"O sujeito de desempenho acaba entregando-se à coação livre a fim de maximizar seu desempenho. Assim ele explora a si mesmo. Ele é o explorador e ao mesmo tempo o explorado, o algoz e a vítima, o senhor e o escravo. O sistema capitalista mudou o registro da exploração estranha para a exploração própria, a fim de acelerar o processo. " (Byung-Chul Han, Sociedade do Cansaço).

O curioso caso de uma sociedade que te faz sentir culpado por estar cansado.

Culpado por não escutar o podcast com as notícias do dia enquanto lava a louça.

Culpado por não estar matriculado nesse e naquele curso online.

Culpado por não aproveitar o trajeto até o trabalho para ouvir aquela palestra motivacional.

Culpado por não estar aprendendo mandarim.

E a culpa se irradia se você não acorda às quatro da manhã, o horário da moda de quem é produtivo.

Aumenta se você sente que uma receita de bulletproof coffee, com todos seus tremeliques e enjoos embutidos, não te segura animado e focado o dia todo.

A culpa torna-se definitiva se você lê ficção e não o passo a passo para um cérebro eficiente, para uma vida organizada, para um DNA reprogramado (seja lá o que for isso), para os hábitos de sucesso, para uma mente multitarefas, e por aí vai.

E você culpado, sobretudo, se simplesmente quiser parar - os arautos do desempenho se levantarão para bradar contra esse tal mindset de fracasso, procrastinação, comodismo.

E no tormento individual (a promoção, os dígitos do salário, a viagem, um carro... qual era mesmo a propaganda que te tirava da cama?), segue-se.

"Desgasta-se correndo numa roda de hamster que gira cada vez mais rápida ao redor de si mesma", diz Byung-Chul Han noutro trecho.

E cabe emendar: até que ponto a gente, corpo e coletivo, aguenta?