A RELIGIÃO DE AQUILES

Aquiles tem 3 anos e mora com os pais na casa dos avós. É um menino muito inteligente e falante que adora brincar com carrinhos, caminhões, tratores e dinossauros. Ele fala com perfeição os nomes dos personagens de desenhos animados, todos em inglês. Gosta também de colecionar várias coisas: botões de roupas, jogos de cartas, dados e dominós.

Aquiles adora a vovó Xandrina com quem fica nos horários de trabalho dos pais. A vovó é católica, vive na igreja e leva o menino para assistir à missa aos domingos, onde ele aprendeu a rezar para o anjo da guarda, a cantar vários hinos e a contar muitas histórias sobre a vida de Jesus.

O pai de Aquiles é Budista e costuma fazer os seus rituais perto do pequeno. Na casa, há um espaço para cada religião. Assim, no quarto dos avós existe um altar onde a vovó Xandrinha expõe várias imagens. Porém, a preferida do Aquiles é o Jesus que está na mesinha de cabeceira da vovó. No quarto dos pais, há um altar com uma imagem de Buda e alguns objetos sagrados. Aquiles costuma ficar parado ali, olhando para cada imagem com muito carinho, como se pudesse conversar com elas.

Aquiles tem muitos coleguinhas com quem passa a maior parte do tempo entretido em brincadeiras diversas. Ah! mas o que o menino gosta mesmo, de verdade, é de ficar pertinho do pai dele, observando e imitando tudo o que ele estiver fazendo.

Domingo passado, Aquiles estava brincando com algumas crianças, quando viu que o pai estava fazendo uma prática de meditação. O pai sentou-se no tapete em posição de lótus diante da imagem de Buda, acendeu um incenso, tocou um sino, juntou as mãos e estava totalmente entregue àquele estado meditativo, entoando um lindo mantra, quando Aquiles parou de brincar, abandonou os colegas e veio correndo sentar-se ao lado do pai. De repente, o menino abriu os olhinhos, observou a imagem solitária de Buda e ficou de pé, tocando insistentemente o braço do pai:

ꟷ Pai! Pai! Pai! Eu posso ir buscar o meu Jesus pra brincar com o seu?

O pai, sem abrir os olhos, consentiu com a cabeça e ele saiu correndo, feliz da vida e foi buscar, no quarto dos avós, a imagem de Jesus. Ignorando a presença do pai, ele aproximou as duas imagens, simulando um abraço. Depois, sentou-se em lótus, juntou as mãozinhas, fechou os olhos e começou a entoar o mantra.

Aquiles não sabe, mas aquela atitude inocente foi capaz de despertar nos adultos que ali estavam o verdadeiro sentido da religião. Aquiles ensinou a cada um que não existe uma religião melhor do que a outra, que todas as religiões precisam estar unidas pelo amor e pela fraternidade para que as pessoas possam viver num mundo mais justo, pacífico e humano.

 

Lídia Bantim
Enviado por Lídia Bantim em 04/12/2021
Reeditado em 16/12/2021
Código do texto: T7400149
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