Sem Querer

Hoje acordei sem querer... As gotas pingavam de uma forma tão clichê e eu reparei em como tudo a minha volta estava da forma como sempre esteve. Um ponto de exclamação seguindo de uma interrogação sem lógica alguma. Nunca sei a que caminho seguir, por isso sempre ando com os pés em duas estradas ao mesmo tempo. Sou duas. Me faço de duas. Ou talvez simplesmente tenha que ser assim, embora isso não seja normal. Acendo um cigarro ainda deitada e a chuva continua desde ontem. Frio no Rio de Janeiro, pelo menos alguma novidade para acabar com a monotonia dos dias cinzas. Mais tarde com certeza eu iria pensar em você, e em nós, e até quando o 'nós' irá existir. Mas naquele momento queria apenas fumar e ver a chuva caindo de forma clichê mudando o rumo de uma cidade maçante de tão carnavalesca. Levanto da cama e sinto o chão gelado aos meus pés, gosto dessa sensação de contato direto, mas isso nao vem ao caso. Naquele momento eu só queria ir ao banheiro escovar os dentes, tomar um banho para tirar o cheiro da decadência do meu corpo. Mas ele não sai. Acendo outro cigarro e sento na janela, posso apenas ver as pedras e o céu, e é melhor assim... Dar de cara com prédios corta completamente o meu momento 'quero-estar-sozinha-para-descobrir-quem-sou-eu-de-onde-vim-para-onde-vou'... As tipicas perguntas matinais. Matinais mesmo que eu tenha acordado às três da tarde. A lucidez que eu tanto tento abstrair não some nunca, e eu só queria conseguir voar e ir embora... Quem sabe estar em cima da montanha que avisto todos os dias da minha janela. E pronto. Pensei em você finalmente. Me perguntei sobre nós. A resposta intangível veio junto com palavras obscenas, estremesso e tento não pensar mais. Hoje eu acordei sem querer, eu dei de cara com a minha realidade, a famosa realidade, a realidade vã, sem querer abri os olhos novamente... Ontem eu voava em um céu com diamantes e as asas tinham sido um presente seu. Mas acordei. E as gotas de chuva nunca caíram de forma tão clichê.