Monita, a Rolinha Sociável

Escrevi, já há algum tempo, uma crônica chamada “O Filhote de Rolinha”, publicada aqui no Recanto das Letras. Era o relato lúdico de um fato sobre um filhote de rolinha que eu salvara e libertara quando ficou adulto.

Uma leitora, intrigada com uma curiosa rolinha que apareceu em sua vida, pesquisou esse pássaro em sites de busca e encontrou minha crônica. Escreveu-me então um e-mail relatando sua história.

Marta, a leitora, é proprietária de um restaurante em São Paulo. No dia 08/11/2007 iniciava o expediente quando uma rolinha entrou no restaurante voando desajeitadamente a ponto de se desequilibrar e cair na churrasqueira. Já havia alguns clientes e eles se juntaram para tentar pegá-la, o que conseguiram depois de algum tempo. Colocaram-na num cantinho na calçada da rua, onde ficou imóvel e muito assustada. Como havia uma loja vizinha especializada em rações e equipamentos para pássaros e peixes, Marta não teve dúvidas em levar a rolinha até lá e pedir que a colocassem numa gaiola e a alimentassem até que fosse buscá-la à tarde.

Encerrado o expediente, dirigiu-se à loja, comprou uma gaiola devidamente equipada, quirela e trouxe a rolinha até sua casa. Sua intenção era mantê-la até o dia seguinte, quando a soltaria.

No quintal da sua casa há muitas árvores e pássaros. Levou-a para lá logo de manhã, certa de que seria o ambiente ideal para soltá-la. Para sua surpresa, porém, ao libertá-la, ela se negou a ir embora.

Desde então, a rolinha passou a conviver com Marta e os dois filhos. Ela voava pelo quintal, entrava na casa, passeava como se fosse um cachorrinho, aboletava-se nos ombros, braços e cabeças dos moradores sem nenhuma cerimônia. Não queria ir embora, parecia ter encontrado seu lar.

Marta conta que, ao chegar do serviço em casa, ela imediatamente voava em sua direção e pousava sobre ela, impaciente, como que querendo colo e carinho, talvez com saudade. E passava horas aboletada nela, algumas vezes na cozinha enquanto preparava a comida, outras vezes no computador enquanto estava digitando.

Conta-me ela que, enquanto digitava, a rolinha passeava pelo seu braço, seus ombros, sua cabeça, seu joelho, mas podia às vezes avançar no teclado e bicá-lo, com ciúmes por dar atenção a aquele objeto e não a ela. A porta do escritório ficava aberta para ela sair, mas ela insistia em ficar junto dela.

Marta tentava acostumá-la ao seu habitat, mas não tinha sucesso. Estava impressionada por ver um pássaro interagindo desta forma com seres humanos, por sua livre e espontânea vontade, como se fosse da mesma espécie.

Ela e os dois filhos estavam apaixonados pela Monita, nome que deram a esta simpática e sociável rolinha.

No dia 15/11/2007, exatamente uma semana depois da sua aparição no restaurante, de manhã, quase no mesmo horário, Marta deixou a varanda da casa e dirigiu-se ao escritório para responder a um e-mail meu, onde eu pedia sua aprovação para esta crônica, com a Monita acomodada sobre sua cabeça. Sentiu ela um pouco inquieta e, quando ia entrar no escritório, ela saiu voando em direção à rua, sentou-se em um cabo de energia elétrica e ali ficou olhando-a por vários minutos. Marta sentiu que era uma despedida e entrou rapidamente em casa para chamar os filhos, pois queria que eles também assistissem à sua partida. Ao voltar com eles, porém, Monita havia partido.

Marta está feliz por esse desfecho mais natural e apropriado para a rolinha, mas, ao mesmo tempo, triste pelo vazio que está sentindo, somente preenchido pelas recordações dos momentos incríveis convividos, em apenas uma semana, com esta surpreendente avezinha.

Postscriptum: Marta está surpresa com o comportamento da rolinha e gostaria de saber se esse comportamento é normal nessa espécie, isto é, se é possível que uma rolinha possua tal inteligência e sinta afetos ou se seria apenas um caso atípico. Fica aqui aberta a área de comentários caso os especialistas queiram se manifestar para ajudá-la. Marta gentilmente cedeu-me algumas fotos que comprovam a história e poderei enviá-las por e-mail a quem me solicitar. Agradeço a ela por compartilhar esta bela história e me autorizar a escrever esta crônica e divulgá-la.

Paulo Tadao Nagata
Enviado por Paulo Tadao Nagata em 17/11/2007
Reeditado em 01/02/2013
Código do texto: T740523
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