O BRASIL E SUAS MAZELAS (Uma pena que seja assim).

Um assunto de extrema gravidade, que pareceu estar caminhando para um desfecho honroso, deixa-me, ao longo dos últimos anos, com uma profunda decepção quando começo a pensar nos destinos do nosso país.

Trata-se da operação Lava-jato. Finalmente surgiu em nossa magistratura alguém com a coragem suficiente para aplicar a lei em criminosos de colarinho branco, representados por indivíduos poderosos do setor político e do meio empresarial. O tal magistrado, ao conduzir o processo, sabia que corria um imenso risco de vida, não só a de si mesmo como a de membros da sua família. Já tivemos exemplos de exterminação de testemunhas de crimes em casos famosos, no ambiente político-empresarial. Parece que a maioria dos brasileiros que acompanharam as investigações não se deram conta do que representou o final progressivo e planejado da operação Lava-jato.

Foram tantos os que confessaram, os que fizeram delação premiada, os que devolveram recursos ao erário, os que testemunharam e, mesmo assim, no final, passou-se uma borracha e tudo se apagou. Ou nada disso aconteceu?

As sentenças prolatadas pelo tal magistrado perderam a sua validade. E sabemos que as sentenças foram confirmadas em tribunal federal, tendo sido, é bom lembrar, as penalidades incrementadas por este tribunal.

Enfim, o processo perdurou por alguns anos e tudo parecia estar acontecendo dentro da legalidade. Todo o sistema judiciário brasileiro tomava conhecimento do que ocorria, como também boa parte do povo deste país.

Em certo momento, decorridos alguns anos do início do processo, certas coisas começaram a mudar, por mais incrível que possa parecer. Primeiro (não sei se vou descrever o acontecido pela sua ordem natural) levantou-se a questão da prisão após julgamento em segundo grau, que era o entendimento prevalecente. Esse entendimento foi modificado, de tal forma que a prisão só poderia ocorrer após trânsito em julgado, ou seja, quando não existir nenhuma possibilidade de recurso por parte do réu. Depois, surgiu a alegação de que o réu tem o direito de falar ou de se manifestar por último, ou seja, a acusação nunca será a parte a se manifestar por último. Mais algum tempo, outra novidade: considerou-se o "forum" que acolheu o processo como incompetente. Lembro-me que foi em um posto de gasolina daquela cidade que tudo começou. Após, não sei mais quanto tempo, descobriram esse fato. Fiquei desconfiado de que tudo o que aconteceu foi devido a uma determinada personalidade.

Assim, depois de tantos anos de investigações, prisões, recuperação de numerário e tudo o mais, todo o processo foi dado como anulado. Disseram que tudo seria reiniciado em um "forum" competente, o de Brasília. Só não disseram "quando". Mesmo sendo difícil de acreditar, isso aconteceu. Pior, aconteceu no Brasil.

Alguns personagens dessa malfadada novela sairam das manchetes e do noticiário, mas todos com o bolso reforçado. Um ou outro continua sendo notícia. Até com muito destaque. Pode? Alguém acredita que o Brasil tem jeito? Quem sabe no século XXII.

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 16/12/2021
Reeditado em 17/12/2021
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