SOBRE A CHEGADA DO DO ANO NOVO

SOBRE A CHEGADA DO DO ANO NOVO

Não sei explicar bem... Estava vendo as comemorações da chegada do Ano Novo em outros paises. De repente, não sei como, me desvisti de ser humano, saí de mim e fiquei observando a humanidade... Que mundo estranho... Que seres estranhos somos... Na chegada do ano muita luz, cores, barulho, gritos eufóricos, risos, multidões vestidas de branco, outros pulando sete ondas, comendo sete uvas, guardando sete sementes... Todos esperando meia noite, como para uma foto. Tudo deve estar perfeito... Sim, pensam as massas condicionadas a ideologias, supertições...

Eu do lado de fora de tudo... Olhando...

A menina na rua bailando com um radiozinho por algumas moedas, uma outra forma de pedir esmolas, mas quase ninguém a ver... Anciãos estirando a mão ao relento, no frio... Crianças vendendo chicletes e bombons para conseguir comprarem alguns ovos e aquecerem o estômago antes de dormir... A idosa com seus poucos pertences, sem casa vagando pela cidade enlouquecida falando sozinha... Logo ali perto dos que gritam eufóricos, e os fogos quase não brilham em seus olhos magros e opacos... surdos pelo ruído ensurdecedor de sua fome... Toda essa gente parece invisível...

E eu do lado de fora do todo vendo tudo... Sentindo tudo... Escutando tudo...

Por que se cuida tanto do exterior, das coisas? Por que não se cuida do interior, das pessoas, dos animais, do que tem vida?

Sigo me perguntando....

Não dá para comemorar.

(Reflexões escritas para a entrada do ano de 2019)