O PRESENTE
Durante algum momento de reflexão num fim-de-semana, questionava sobre a prática do envio de flores a quem se ama. Meu racional sinalizou que não me sinto suficientemente sensibilizado para tal. O fato é que presentear alguém parece ter o valor mágico de materializar sentimentos. Só que entendo que matéria e sentimento são elementos de natureza diferentes. O que é matéria? É o concreto, o objetivo. E o que é sentimento? É o imponderável, o subjetivo. Esse convívio entre o real e o imaginário sofre, nesses casos, o forte impacto da incompatibilidade. É como se tentássemos colocar água e azeite num mesmo copo para formar um terceiro produto. Não dá liga. Não se misturam. A dureza da vida já me fez conhecer a famosa Partilha de Bens, alguns deles, objeto de “presentes”. No fim, um fica com a água e o outro com o azeite.
Os presentes que quero dar e receber – hoje e sempre – pertencem a uma mesma natureza. E o que é melhor: não serão dados pelo bolso, mas pelo coração, que através de suas batidas e da expressão de nossos olhos, farão com que sintamos que, de fato, somos reciprocamente fonte e destino de carinho, respeito, admiração, orgulho, solidariedade, compreensão, cumplicidade, paixão, ternura, amor, desejo e tudo o mais que possa enriquecer, realmente, nosso principal patrimônio – o emocional.
Só que a única matéria capaz de sintetizar tudo isso está toda contida na dimensão de um simples beijo.
Racionalizando o amor