Qual o seu IKIGAI?

Fazem parte do meu acervo pessoal dois livros sobre esse conceito tão caro aos japoneses - IKIGAI - palavra que se traduz, em termos genéricos, como um propósito de vida, uma razão para viver e acordar cedo todos os dias de manhã e trabalhar com o coração cheio de alegria. Tenho um colega, que mora nos Estados Unidos, que trabalha doze horas por dia fazendo caricaturas ao vivo, e o faz pleno de alegria. Existe melhor exemplo de um IKIGAI como esse? Infelizmente para nós, ocidentais, via de regra, esse conceito é um verdadeiro tabu. Por quê? Porque fomos programados pelo Sistema para seguirmos essa ou aquela profissão que nos traga muita riqueza ou nos proporcione um "status social", ainda que nosso peito arfante grite de dor e de desespero por fazermos algo que odiamos e desprezamos no mais profundo do nosso íntimo. Como bem representado no filme "Tempos Modernos", de Charles Chaplin, somos apenas uma peça de reposição descartável para nutrir e alimentar uma colmeia gigantesca e complexa que nos mantém aprisionados numa ilusão de que somos os seres mais "felizes" desse mundo, fazendo "caras e bocas" nas redes sociais e mostrando a nossa "felicidade de plástico". Somos programados para seguir um caminho traçado pelos outros para satisfazer os interesses dessa colmeia artificial e onipresente. Levei muitos anos para descobrir isso, tão alienado que eu fôra nos tempos de colégio, cujo lema era "o colégio que ensina o aluno a estudar". Mas a verdade é que eu passei por uma transição entre colégio e universidade totalmente despreparado pra vida. Satisfiz o grande objetivo do meu colégio que era passar no vestibular e ter minha fotografia 3x4 estampada num jornal de grande circulação da cidade. No entanto, aquilo foi só o começo de uma vida adulta cheia de frustrações e desespero. Minha mente gira entre vários "propósitos", mas não sei qual o meu verdadeiro IKIGAI. A vocação, por assim dizer, vem do latim e está relacionada com a palavra "voz", pois é um chamado do nosso coração, do nosso Ser interno mais íntimo e profundo a fim de cumprirmos uma missão aqui na Terra, neste planeta turbulento e caótico. Como escutar essa "Voz do Silêncio" nas palavras da Mestra Helena Blavatsky? Talvez durante uma meditação profunda, uma oração piedosa ou experimentando várias habilidades e profissões. Eu realmente não sei qual a fórmula, mas o grande filósofo Aristóteles nos deu uma pista: que a nossa vocação corresponde ao encontro entre os nossos talentos inatos e as necessidades do mundo. A maioria de nossas habilidades manifestamos na mais tenra infância, mas a sociedade nos sufoca, porque isso - como já foi dito - não traz riqueza, nem , fama, nem glória. Pululam nas Redes Sociais mensagens sobre riqueza baseada no trabalho duro e árduo de todos os dias. Isso me leva a acreditar que o trabalho convencional não passa de uma tortura legalizada (não por acaso a palavra "trabalho" vem do latim "tripalium", um instrumento de tortura composto de três paus), de um sofrimento leviano e superficial apenas para não sermos chamados de "ociosos" e "vagabundos" perante a sociedade, até porque os índios não "trabalhavam" de acordo com os ditames do sistema capitalista colonial. Polêmicas à parte, dizem que o melhor trabalho é aquele que traz estabilidade, como se esse conceito existisse na natureza e não um mero termo imposto pela sociedade para que possamos estampar na internet a nossa "felicidade de plástico". Estou sempre me perguntando: "qual o meu propósito de vida?", "qual a minha verdadeira vocação?", "qual o meu IKIGAI?". Espero um dia encontrar uma resposta para tão angustiante pergunta e que você, meu caro leitor ou leitora, possa encontrar o seu IKIGAI, caso não o tenha encontrado ainda.

Pedro Ernesto Prosa e Verso
Enviado por Pedro Ernesto Prosa e Verso em 21/02/2022
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