PRECISAMOS DE PARTIDO NAZISTA LEGALIZADO?

Imaginemos que tipo de sociedade têm na cabeça pessoas que veneram autoridades que consideram os Direitos Humanos "esterco da vagabundagem" e pregam o fuzilamento de adversários políticos!

Claudio Chaves

kafecomleit@hotmail.com

CONQUANTO inoportunas e degradantes para os padrões do que se conhece como civilidade, não há nada de novo nas falas do youtuber Monark, que defendeu a criação de um partido nazista no Brasil, e do deputado federal Kim Kataguiri, que defendeu a descriminalização de tal ideologia.

SEUS posicionamentos fazem parte de um conjunto de discursos que os brasileiros estão de ouvidos calejados de ouvir (e muitos aplaudirem) vindos de tantas outras personalidades, incluindo autoridades públicas do mais simples ao mais elevado escalão de nossa República, o que, evidentemente, nada diminui a gravidade da ação e a necessidade de responsabilização de seus agentes.

O QUE temos assistido mais recentemente não é o começo, mas o processo de consolidação de um projeto que remonta há séculos, o qual, com o passar dos anos e o aperfeiçoamento da expertise de seus promotores, apenas ganha mais consistência.

NUNCA foi segredo que o Brasil (a sociedade brasileira), como o conhecemos, não é resultado de uma criação espontânea da natureza, mas de uma invenção, um projeto, uma ideação.

E QUAL é esse projeto?

O PROJETO da Pátria unitária, europocêntrica, com um só rei, uma só raça, uma só fé, uma só lei.

E QUAIS são essas raça, fé e lei?

SÃO exatamente a raça, a fé e a lei dos "inventores", a saber os colonizadores.

BASTA lembrar, por exemplo, há quantos séculos e de quantas maneiras já se intentou exterminar por completo os povos originários (indígenas) desse chão. Mais recentemente, o Presidente da República disse que no que dependesse dele, tais povos jamais teriam um palmo de terra. Também é dessa mesma autoridade a afirmação de que o "índio, cada vez mais, é um ser humano como nós". O seu Vice, por sua vez, atribui os "atrasos" do Brasil à "preguiça do índio e à malandragem do negro" - ou seja, bom mesmo, segundo a ótica do General (que tem ascendência diretamente indígena) só ou branco, o senhor europeu, religioso piedoso e colonizador.

NÃO é de hoje - nem de ontem ou anteontem - que ouvimos, convivemos e toleramos comportamentos tipicamente excludentes e exclusivistas como: "Somos a maioria, eles têm que nos respeitar"; "As minorias que se adequem à maioria ou desapareçam".

SOMADAS a declarações desse tipo, temos assistido (sempre passivamente) - e também não é de agora - a ações como mendigos e índios sendo queimados vivos, homossexuais linchados (em vias públicas) até a morte, deficientes marcados a "ferro quente", casas de cultos de religiões afro-brasileiras sendo queimadas e seus membros espancados, e os mais diversos e horrendos tipos de justiçamento praticados (além dos incontáveis linchamentos e perseguições virtuais) por aqueles que se autointitulam portadores dos verdadeiros valores e guardiões dos bons costumes - vídeos com esses tipos de ações, há anos, circulam aos montes em grupos de mensagens; e quanto mais surgem (e mais cruéis são) mais divulgação têm.

UM dos reflexos mais nítidos da simpatia - sempre existente e cada vez mais crescente - do povo brasileiro por esse projeto de sociedade "una e pura" são as autoridades eleitas nas últimas eleições e as pautas defendidas por elas e pelos que as elegeram.

IMAGINEMOS que tipo de sociedade têm na cabeça pessoas que, diante de milhões de famintos e desempregados, concentrações monumentais de [outras] fortunas e terras, uma das maiores desigualdades sociais do Planeta, preferem ocupar as ruas em protestos a favor de pautas como: criminalização do comunismo, consideração dos Direitos Humanos como "esterco da vagabundagem", fechamento do Congresso Nacional, fechamento do STF, censura à Imprensa, defesa de uma "arte heróica e imperativa" e de música cujo "único objetivo deve ser glorificar Deus"!

UMA sociedade que aceita passivamente - e até venera - líderes religiosos e políticos que defendem o fuzilamento de adversários ou sua morte por infarto ou câncer, que mulher ganhe menos que homem, homenageiam a tortura e torturadores, comemoram o assassinato de uma parlamentar simplesmente por ser de oposição… uma sociedade que celebra a morte de criança por ser familiar de seu desafeto político, e de jornalista por criticar seu político de estimação. Imaginemos!

SERÁ que tem mesmo feito falta um partido legalmente constituído para promover o nazismo entre nós?!