OUTROS NATAIS

“As calçadas da cidade, enfeitadas com bolas, flores e arranjos, ocupadas por pessoas apressadas, carregando embrulhos coloridos, conferem um ar especial a esta época do ano. As crianças riem, os adultos também distribuem sorrisos e, nas esquinas, todos ouvem os apelos e mensagens anunciando que o Natal chegou, uma época de luz, harmonia, fraternidade e felicidade”. Essas palavras não são minhas, não. É a tradução, bem simples, de uma típica canção americana, intitulada “Sinos de prata”. Ela surgiu em 1951 e o seu autor disse que a intenção era mostrar o espírito de Natal, nas grandes cidades, com aquele clima todo especial, voltado para as tradicionais festas de fim de ano, uma espécie de pausa na competição desenfreada que caracteriza as últimas décadas.

Uma outra melodia, chamada “O espírito do Natal”, nascida em meados dos anos 40, quando o mundo estava mergulhado na selvageria da segunda grande guerra, diz que: “o Natal, para ser Natal, precisa somente de amor”.Já o maestro Ray Conniff, no início da carreira, nos anos 50, compôs uma singela canção, dizendo que “o real significado do Natal é dar amor todos os dias. É viver de acordo com o que se diz e que, quando você estiver dando os seus presentes, não se esqueça de que, o importante mesmo, é dar amor todos os dias...”

Assim, o amor é, não só segundo as tradicionais melodias natalinas, a essência do espírito de Natal. Não se trata desse amor romântico, explorado em cartazes de cinema e capas de revistas, mas daquele amor fraternal que deveria existir entre todos os seres humanos, mas que, infelizmente, embora nunca tenha existido na forma desejada, vai diminuindo cada vez mais, mesmo nesta época bonita do ano. Ele fica restrito apenas às mensagens, muito bem elaboradas, acompanhadas de sugestivas ilustrações, uma espécie de amor de fachada. Estão aí, em todo o mundo, a violência, a falta de caridade, as humilhações e a miséria, entre outras coisas. E hoje por acaso é Natal. A gente só se esquece da figura que inspirou a data, há mais de dois mil anos atrás. Uma simples criança que nasceu, numa simples manjedoura e que recebeu, nos primeiros dias de vida, a visita de reis poderosos e humildes pastores, numa mensagem de que, para Ele, todos são iguais. Para isso, deixou uma mensagem muito simples, mas difícil de ser cumprida: “amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”.E ainda deu um aviso importante: “aquilo que fizerem ao menor dos meus seres, Mim o fareis”.

Os séculos se passaram e poucos, mas muito poucos mesmo, tiveram a coragem de viver as suas palavras. E, convenhamos, não é nada fácil. Afinal, somos humanos, falíveis e, nessa busca contínua do

sucesso, a humanidade sempre se esquece dos mais humildes, dos necessitados, dos sofridos, dos desesperados, dos doentes, dos famintos.

Hoje é Natal. Dizem as mensagens que é dia de paz, harmonia, fraternidade. Tomara que fosse assim, tão simples. Que na realidade tudo fosse muito bonito como nos cartões, nas luzes que enfeitam as ruas, nas bolas coloridas que trazem recordações, nas músicas que embalam as festas. Infelizmente existem os que não poderão nem sonhar. Talvez a gente se lembre, por um momento, numa breve oração, que existem “outros natais...”