CARTA ABERTA DE UM SUiCíDa

Estou em um estado de anseio por mais daquilo que a vida pode me ofertar e ao mesmo tempo penso que a vida não pode dar mais do que tenho. Uma única vida, muitas expectativas. Nem todas as expectativas cabem nesta única vida. E o que é de fato a vida? É o que se tem? É o que se pode ser? É o que se foi ? Não sei. Viver me provoca muitos anseios, muitos questionamentos. Poucas respostas. Talvez o que me cabe seja apenas servir ao destino. Para mim está sendo uma tarefa complexa e mais do que isso, me sinto cada vez mais distante do sentido da vida. A morte é chamada de libertação enquanto a vida, apesar de não ser um fardo trás experiências bastantes cruéis que nos fazem realmente questionar se vale a pena mantê-la. No momento sobram motivos para afirmar que viver não vale a pena. Ao considerar o clima socioeconômico – cultural- histórico – político se constata menos motivos para mudar de opinião. Talvez ao chafurdar em algum canto de minha vida eu encontre motivos para celebrá-la. Talvez seja o raciocínio inverso que deveria ser traçado: “O que vale a pena na minha vida?” e já poderei emendar na seguinte indagação que naturalmente se sucede a primeira: “Daquilo que constatei que tem valor, quanto vale a pena preservar?”

O sentido da vida não pode ser obtido somente vivendo, como se a morte fosse o avesso da vida. Então talvez a falta da experiência de morte seja uma experiência incompleta de vida, logo provar o luto talvez preencha um pouco mais do que poderia ser a completude da vida.

Ao olhar por um outro ângulo vejo a morte e a vida como as duas faces da mesma moeda. Então, uma vida infeliz equivaleria a uma morte infeliz. Sim, pode ser verdade. Há um pequeno detalhe nesse apontamento que o invalida totalmente, o detalhe é: nenhum ser vivente voltou do submundo de Hades para confirmar algo de lá. O que se tem abundantemente são relatos de “quase morte” e friso bem o termo “quase”.

A morte é um mistério, a vida é uma consternação. Entre as duas faces da moeda está a mão que irá jogá-la em uma disputa pessoal de cara ou coroa.