HOJE TEM FEIJOADA

             O JOÃOZINHO DA TACÍLIA
         (Da série: Meus tipos inesquecíveis)

Ele, e mais duas irmãs, moravam num pequeno casebre plantado em meio à vastidão da campina.
Feito um pontinho escuro entre o verde ,era ele – o casebre – a única habitação naquelas terras imensas de propriedade de um rico madeireiro.
A mãe chamava-se “Tacília”.
Morena, reforçada, naqueles tempos em que não imperava a frescura dos dias de hoje, denominavam-lhe “Nega Tacília”.
Ela propria brincava com a cor de sua pele , autodenominando-se “Negona”, ao que acrescentava em meio a largos sorrisos:”Bunita, namoradeira e boa de dança”.
A verdade é que toda a vizinhança lhe queria muito bem.
Joãozinho, o único filho homem, com seus 8 a 9 anos, era gorduchinho,ligeiramente estrábico, tinha cabelos encaracolados que os penteava abrindo uma linha divisória, que deixava um volume exagerado de caracóis para um dos lados um bem mais discreto do outro.
Diziam-lhe: O “Joãozinho da Tacília”.
Meio lerdo no andar, sempre dentro de um paletosinho branco apertado na barriga , abotoado com uma falha nos botões, o que deixava uma sobra numa das pontas, batia o ponto diariamente em nosso portão lá pelas dez e meia da manhã.
Minha mãe – que chamava- se Hilda – tinha o apelido carinhoso de “Dona Dida”.
Joãozinho , sempre as dez e meia, firmava o pulso e entonava no portão um chamado à dona da casa , num tom exagerado que soava mais ou menos assim:
- Dona Dideeeeee !!!, Dona Dideeeeuuu!!!, Dona Dideeeeia!... Dentre outras variantes.
A dona da casa, que a essa altura estava de ouvidos colados na PRJ2 de Ponta Grossa, ouvindo suas rádio novelas, saía as pressas para atender o pedido do piazito, que era sempre o mesmo - Gritava mostrando dois dedos da mão:
- "Cebolinha e sarsinha !"
Ela atendia o pedido, ele agradecia e tomava o rumo de sua casa.
Inconformada, minha tia que morava na casa ao lado, vez e outra indagava ao Joãozinho se a sua mãe morava em cima de uma pedra, ou numa montanha de areia.
Porém, lá em casa a coisa era mais light e os canteiros de dona Dida ganhavam maiores proporções, até porque era preciso atender à demanda da vizinha , que era constante.
Numa certa manhã, depois de tantos “Dona Dideee!!!” no portão, esta, já sabendo do que se tratava , saiu pela porta dos fundos e retornou  trazendo em mãos os maços de “Cebolinha e sarsinha”.
-Pronto Joãozinho ! Disse ao garoto. Taí o teu pedido.
Ao que este acrescentou:
-Hoje eu quero também “umas foínha de côve”.
Boas de volta e a pacienciosa adentra novamente ao quintal para colher as couves.
Na volta, para reforçar a "cesta básica" apanha uns ovos e entrega couve e ovos ao cliente das dez e meia.
Parecendo irritado Joãozinho profere:
-Só quero “as côve” dona Dideeee!!!.”Os ovo a senhora guarde pra fazê um piché, um refogado ou um bolo".
Credo Joãozinho !!! responde dona Hilda.
Estás recusando os ovos? Por que vais levar só as couves?
A resposta veio embarcada num sorriso largo,expondo por inteiro as arcadas dentárias tipo marfim naquela cara gorducha cor de chocolate.
- É que a mãe hoje tá fazendo uma “F e i j o a d e” , e feijoade nem combina com ovo frito.
Tá bom Joãozinho ! Vai com Deus piá da Tacília.
Por falar nisso, agora me deu uma vontade...Acho que amanhã, também eu, vou fazer uma "Feijoade" kkkkk
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 22/03/2022
Reeditado em 22/03/2022
Código do texto: T7478695
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