Cheia de graça

Não é fácil ser mãe. Nunca foi. A primeira experiência materna que tive foi ver minha mãe lutando para criar os seus filhos. Tempos sofridos aqueles. Naquela época não havia noventa por cento do conforto que hoje existe em todos os lares. A luta era dura e árdua. Mas o que faltava em recursos, abundava em amor. Não tínhamos o tempo dividido entre televisão e internet, dormíamos os bandos numa cama só, nossas casas mal tinham energia elétrica, que vinha da cemiguinha e era fraquinha, fraquinha... Comida no fogão a lenha, o mesmo prato quase todo dia. O café da tarde e da manhã era só café mesmo, com um pão da padaria do Sr. Quito, só de sal. A rosca com açúcar em cima, só de vez em quando. Uma roupinha por ano e sapato passando de irmão para irmão, à medida que o pé crescia. Minha mãe foi guerreira, criou nove filhos com a força das mãos e dos pés tocando uma máquina de costura enquanto meu pai cortava os rincões do Brasil com o transporte de carga pesada.

Depois que cresci, achei que tinha que seguir o mesmo caminho, e como todo mundo, me casei. No início da minha vida a dois, eis que chega mais alguém para completar a família. Nasce o meu primeiro filho. E com ele, nasce também o meu medo de não saber ser mãe à altura dos desejos de Deus, das necessidades do menino e dos desafios do mundo. Aprendi no campo de batalha, na luta do dia a dia, ora empunhando as armas, outras acenando com a bandeira branca, nas pequenas tréguas que o cansaço às vezes exigia. E assim vieram mais duas princesinhas, e a cada uma que nascia, um aprendizado diferente eu fazia. Aprendi lições divinas, maravilhosas e gloriosas que me fizeram desmanchar em sorrisos, derreter que nem açúcar com a delícia dos três. E aprendi também lições amargas, dessas que arrancam lágrimas e fazem o coração sangrar quando a gente tem que passar por caminhos de dor com nossos filhos. Hoje, já estão crescidos, cada um fazendo o seu dever de casa, aprendendo as mesmas lições que um dia aprendi.

E dessas lições a que nunca esqueci foi a do significado da palavra “graças”. Nós, mulheres, somos apenas isso enquanto ainda não temos um broto de nós em nossos braços. Nosso corpo é só um invólucro de uma alma que vê o mundo com a visão exterior, com desejos e limites, um ser vivente atravessando o tempo. Mas quando nos tornamos mães, nosso olhar transcende a própria alma, enxergamos com os olhos do coração e nos vemos por inteiro na criação de Deus, carregando no ventre e nos braços os sagrados filhos que Ele nos confia. E como mudamos... Nos tornamos mãos frágeis e suaves nos momentos de carinho. Nos tornamos mãos duras e invencíveis nos momentos de proteção e na defesa dos nossos pequeninos. Somos aves visionárias, sempre em vigília, mansas como cordeiros para manter a paz. E somos leoas invencíveis nos momentos de aflição, escudo e baluarte para defender com a vida aqueles que são a extensão de nossas vidas. Somos isso tudo porque Deus nos cobre de graças quando nos tornamos mães. E são elas que nos mantém em linha direta com o céu, onde Ele pode ouvir nossa voz e ainda nos permite falar com os anjos quando precisamos. São dádivas que só as mulheres que se entregam à divina missão materna são capazes de receber, porque são humildes ao pedir e ao alcançá-las, sabem falar com a linguagem do amor para agradecer. E é tanto amor que se tornam elas, a própria graça de viver... Eternas e únicas no coração de cada filho. Infinitas na extensão das mãos de Deus. Somos todas Marias, cheias de graça...

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 13/05/2022
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