TIGRESA, UMA QUESTÃO DE ÉTICA

Cuidar de Tigresa nunca foi trabalho, foi luxo, uma honra e um privilégio, uma dádiva que certos humanos, não sei por que, têm a felicidade de receber.

Claudio Chaves

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Tigresa - mesmo em seus momentos mais probantes, nunca perdeu a a serenidade e a doçura .

DEFINITIVAMENTE, cuidar de animais (e até mesmo de gente) nunca foi, em mim, o que se pode considerar um dom ou uma paixão.

POR outro lado, o sofrimento de toda a natureza, excetuando-se a nossa espécie, é uma intriga que certamente eu levarei para o túmulo. Ou seja, nenhuma explicação conseguiu, até hoje, me convencer de que seja natural todo o sofrimento que as demais espécies são submetidas, em quase a totalidade das vezes, indireta ou diretamente, por nossa causa.

ALGUMAS pessoas que me veem passeando com cachorros, por exemplo, podem ser induzidas a acreditar que sou apaixonado por essas criaturas, o que não é verdade. Isso não significa, evidentemente, que eu tenha algum tipo de aversão ou restrição a eles ou a outras espécies domésticas.

TALVEZ eu esteja equivocado – essa é uma possibilidade que não se deve descartar nunca. Mas atribuo especialmente à ética essa minha relação respeitosa para com os [outros] animais.

PARA muitas pessoas chega a ser ofensiva a forma zelosa e afetiva como outras lidam com essas criaturas. Tais críticos não conseguem [ou dizem não conseguir] entender, por exemplo, por que pessoas gastam bastante dinheiro na tentativa de evitar a morte ou melhorar a qualidade de vida de um cachorro vira-latas (como é o caso da Tigresa), por exemplo, enquanto por todos os lados há pessoas morrendo por falta de tratamento, sem habitação e até de fome.

EU não tiro o direito delas de questionar e até se indignarem. De fato, é um verdadeiro dilema humano.

ANTE essa angústia, a ponderação que sempre faço é: “nós, os racionais, sabemos o que está acontecendo, na maioria das vezes, porque está acontecendo – e raramente não há uma parcela de culpa nossa em todas as vicissitudes pelas quais passamos –, eles não; sofrem por tabela”.

A TÍTULO de esclarecimento, Tigresa – a cadela que conviveu conosco por pouco mais de 11 anos, e morreu de câncer nas mamas na quarta-feira, 25, depois de uma luta hercúlea da parte dela, tendo sido submetida à cirurgia e a rigoroso tratamento medicamentoso por quase dois meses – não foi uma aquisição intencional; não a recebemos como presente nem a compramos de ninguém [aliás, não gosto nem um pouco dessa ideia de comprar/vender animais, especialmente de estimação]. Simplesmente, depois de sofrer provavelmente um atentado que decepou sua pata traseira direita, ela “estacionou” em nossa casa faminta, suja e cambaleante com o que restou da pata bastante infeccionado. Cuidamos dela; ela sobreviveu e não quis mais sair de perto de nós.

SIM, cuidar de Tigresa, especialmente depois da descoberta dos tumores, teve certos custos, inclusive financeiro e emocional. Nós entendemos, no entanto, que ter uma morte digna (com o menor sofrimento possível dentro das possibilidades que estavam ao nosso alcance) era um direito dela, como de todo ser vivo, e um dever ético nosso; apenas isso.

GOSTAR de animais, ter afinidade e desenvolver relacionamento de afeto com eles, cuidando, protegendo, amando-os é, sem dúvida, um comportamento louvável, porém tais predicativos não são condições imprescindíveis para trata-los com o respeito e a sensibilidade que eles precisam e merecem.

PARA além de amor, proveito próprio e equilíbrio natural, respeitar e procurar viver em harmonia com o restante da natureza (da qual nós mesmo somos parte indissociável) deve ser uma questão moral, ética capaz de nos impelir a repensar nossas prioridades e, principalmente, nossas responsabilidades como ocupante do topo do conjunto das espécies vivas do Planeta, como nos consideramos.

CUIDAR de Tigresa, desde aquele fevereiro de 2011 até 25/05/2022, nunca foi trabalho, foi luxo, uma honra e um privilégio, uma dádiva que certos humanos, não sei por que, têm a felicidade de receber!

APROVEITO para, com toda sinceridade, agradecer a todos que, como Silvani Pereira e Elinete Sarraff, desde o início até o último momento, sempre nos apoiaram, incentivaram e, juntamente conosco, torceram até o fim pela nossa Tigresa, a dócil “matriarca” de nossa família canina! MUITO OBRIGADO!