Frio canalha

 

Aluu! Inuugujaq meus caros 23 fiéis leitores e demais 36 que de quando em vez aparecem aqui pelo meu iglu literário a fim de ler crônicas gélidas de tão despudoradamente canalhas. Ajunngilla?

 

Adoro o frio, pois ele é um canalha, que nem eu. Nos entendemos. Por isso sou um charkycityense muy bem adaptado ao clima local. Um escritor morando na terra do frio, dois canalhas que se entendem.

 

E por isso também entendo a Marcella, minha nora grávida. Até ela chegar aqui em casa, trazida pelo Toninho Júnior, sentia-me só e incompreendido, um canalha solo e abandonado. Quando essa guria começou a vir aqui, antes de dar o golpe da barriga no Júnior, botei o olho e vi de cara: eis aí uma canalha iniciando sua carreira na canalhice. Fácil para um canalha experiente e aposentado como eu identificar uma canalhinha neófita se criando nas malandragens da canalhice.

 

Se achava muito esperta, a ingênua, pensando que este Bacamarte estava de bobs. Foi divertido lidar com ela se achando por cima, até o dia em que se tocou que eu era um canalha PHD, aí começou a ficar mais ligada e a canalhar na defensiva. E nunca falamos disso, nos entendemos só no olhar. Cruzamos os olhos e ela entende o recado. Vai longe essa guria, admiro ver a canalhice dela se criando, aprimorando-se e evoluindo. Mais uns anos e conseguirá mentir com absoluta sinceridade, como eu, o aldabrão mais honesto de Charky City. Até lá, espero que ela não esteja mais morando aqui em casa, pois detestaria uma convivência simétrica com ela.

 

Ela já sacou que não dou bola se ela sacaneia o Júnior. Buenas, se ele come a carne, tem mais é que roer o osso mesmo, para aprender de que barro esse mundo cruel é feito. Já se ela se meter comigo, com a Louise ou com o eu cartão... Então não ultrapassa a linha vermelha, pois já se antenou que sou um baita filho da putin, só não me mostro ostensiva ou desnecessariamente. Fica com medo, pois sabe que estou num nível acima dela na canalhice, mais sofisticado, não permitindo a ela saber exatamente o que esperar de mim.

 

Não sabe ainda, mas o meu futuro Baca Neto, que carrega no ventre e que sabe que será uma prisão para o Júnior a ela, será, por outro lado, uma prisão dela a mim. Explico: gosta de $, coisa que o Júnior não tem, mas eu sim. Não desconfia o quanto filho da putin eu sou, até onde vai a minha canalhice, a ponto de matar ela indiretamente e o Júnior diretamente a míngua no $ se as coisas não saírem com o Neto à meu gosto. Brigo até com a Louise, fico sem sexo, mas não arrego: o Neto é central para mim, prioridade absoluta.

 

Ah, o frio, esse canalha, se tu marcar bobeira te mata de hipotermia só de curtição, é da natureza dele. Adoro canalhas, como eu, por isso gosto do frio e da Marcella. Por falar nisso, lá vem. Olha só, trazendo um café que ela mesmo passou pra mim, no ponto exato que adoro. Chega a fazer isso melhor do que a Louise! Acreditam? Sabe que sei que faz isso só para puxar meu saco por causa do $, mas faz assim mesmo, por que já se tocou que admiro muito isso nela, essa total falta de pudor e constrangimento em ser cínica e canalha e usa isso a seu favor em sua relação comigo, por ter percebido, acertadamente, que esse é o meu ponto fraco em relação a ela, ainda mais agora, que eu estou literalmente sem pai nem mãe, dado a carências, ainda mais que o Toninho Júnior é muito do lado da Louise. 

 

- Oi sogrinho, trouxe um café passado bem forte para o senhor, como gostas.

- Ai, tu é um anjo, minha querida nora. Senta aqui do meu lado.

 

E ela senta mesmo, a despudorada. Olha pra mim e sorri, a monstrinha. Três canalhas: eu, a Marcella e o frio, canalhamente um do ladinho do outro. Nos adoramos, mesmo desconfiando uns dos outros. Tomo o café bem tranquilo, sem medo dele estar envenenado, pois a Marcella me quer bem vivo e com saúde, eis que sabe que seu eu bater as botas a pensão pra Louise ficará pequena e ela sairia perdendo $ com isso. Imagina, dar o golpe da barriga, passar todo o trabalho pesado e jogar contra o seu próprio time, fazendo gol contra no fim do segundo tempo? Bem capaz. Nunca casaria com uma mulher tão canalha quanto eu, mas adoro essa guria, ela vai longe. Bom ter uma nora dessas, das minhas: cobra criada lidando com cobra se criando. O Toninho Júnior, pobrezito, ainda aprenderá que não basta uma mulher ser bonita e gostosa pra gente se enrrabichar por ela.

 

Será que o Baca Neto vai ser um baby canalha, como o vovô, a mamãe e o frio? Aguardemos, ansiosos.

 

Qujanaq por terem dado uma passadinha por aqui hoje. Takuss"!

 

 

----- * -----


Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.


MAIS TEXTOS
 em:
http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina
Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".)

CARTA ABERTA aos meus caros 23 fieis leitores: 
https://www.recantodasletras.com.br/cartas/3403862

GLOSSÁRIO KALAALLISUT:
Aluu - Olá.
Iterluarit kumoorn - bom dia.
Inuugujaq - Boa tarde.
Ajuungila - Como estão?
Qujanaq - Obrigado.
Takuss' - Até mais.

Antônio Rollim Fernando de Braga Bacamarte

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 10/06/2022
Reeditado em 10/06/2022
Código do texto: T7534994
Classificação de conteúdo: seguro