MOSAICO.

Dia desses, de algum lugar, chegava-me aos ouvidos, uma antiga canção do compositor e cantor Guilherme Arantes, cuja letra, em alguns trechos, dizia: "Pra que ficar juntando os pedacinhos do amor que se acabou, nada vai colar". Em alguns casos, de fato, nada cola mesmo. Apesar das muitas tentativas. Aplica-se a frase, não só, às relações amorosas, como também, aos relacionamentos de amizade ou familiares; à vida. Por vezes, tornam-se os caquinhos fragmentos tão minúsculos e perfurantes...Não mais se encaixam, não conversam entre si, não dão liga. E a visão torna-se turva, com brilho estilhaçado. Pedacinhos e caquinhos pontiagudos ferem, cortam, fazem sangrar. Necessária se faz uma ressignificação interior, um reposicionamento reflexivo e foco. Nas mãos do artesão, mágicas mãos, os caquinhos, se de forma ordenada, forem dispostos, novas perspectivas surgirão. Apara-se aqui, lixa-se ali, e tudo, novamente, vai se encaixando. E os caquinhos, antes desprezados e desordenados vão formando novas simetrias. Num encaixe perfeito e na harmonia de formas e cores, como num "Mosaico", vai ganhando a obra, outros contornos. E outra vez, "A vida imita a arte". Ou "A arte imita a vida"?

Elenice Bastos.