Eu te amo papai

EU TE AMO PAPAI

Como é sentir estar no paraíso e não poder caminhar sobre as nuvens e nem sentir o perfume das flores mesmo estando em plena primavera? De ver o mar e não poder tocar, de ouvir o uivo dos ventos sobre as montanhas, de ver as folhas dançarem ao som da melodia do vento e não sentir no rosto a suavidade da brisa? Assim, é passar mais um dia dos pais sem você papai!

Os anos se passaram ou passei por eles. Deixei para traz a juventude e assomo hoje a idade da compreensão, mesmo do incompreensível, sofri nas armadilhas do destino e claudiquei ante a fúria indômita da crueldade daqueles que se fizeram meus inimigos mesmo sem eu tê-los dessa forma eles me açoitaram deixando em mim cicatrizes inapagáveis e, me vi na escuridão mais busquei a luz em tuneis do tempo e ao largo eu encontrei a Nau Esperança e nela embarquei, esfumando suas velas segui rumo a grandes calmarias onde adormeci ao som das vagas, do esguicho das espumas e ao som ensurdecedor das gaivotas. Retornei ao passado e abri os olhos na casa paterna e lá olhei a tua foto dependurada na parede da sala de estar esboçando um sorriso meio sem graça e eu pensaria nele assim, em preto e branco e a sua imagem me encheria de um vazio e de uma saudade desvairada de que ainda voltaríamos a trilhar na mesma estrada, e em soluços eu enchi os olhos de lagrimas a deslizar sobre as pálpebras, uma nascente que se avolumava e que parecia incapaz de conter como em uma nêmese de alegria e tristeza.

Pela janela da sala, o quadrado de luz no chão, a sombra nítida das cortinas reluzia a imagem de galhos nus, mas que anunciavam que em poucas semanas folhas novas se abrindo em plumas nas arvores e modificando as formas no piso. Eu que já vira aquilo inúmeras vezes mas nesse momento pareceu-me estranhamente impessoal como se eu nunca tivesse morado ali, mas uma cena viva ou morta a escolher simultaneamente eu vi meu pai morto num caixão circundado por velas que ardiam ao fogo e, de outra forma eu vislumbrei ele sentado na cadeira de balanço sorridente mas eu nunca soubera avaliar qual das duas cenas me doeu mais e assim eu me certifiquei que o mundo é precário e as vezes cruel.

A lua agora inundava mundo de uma linda luz, a minha respiração tornou-se ofegante e senti uma mão de criança alinhando os meus cabelos grisalhos, despertei em um trajeto de ruas estreitas e escuras, do vento nas folhas, da luz piscando nas poças e da agua espirrada pelos pneus, em minha volta diária do escritório para casa e, talvez não lembrasse de mais nada. Porém, a minha voz soaria embargada quando me perguntassem que dia é hoje porque eu não tenho mais a quem abraçar dar um presente e dizer algo que eu nunca disse e que hoje me faz falta assim: E TE AMO PAPAI.

Airton Gondim Feitosa