O COMEÇO DO FIM

Celso Corrêa de Freitas

Obs 1: Texto original postado no “portalpoeticoccf.blogspot.com” em 30/10/2006

Obs 2: Não leia esse texto, como um simples desabafo de um eleitor derrotado. Leia-o pelo que de verdade é, o relato de um fato ocorrido na noite em que o Brasil reelegeu o Sr. Lula para mais um mandato.

29/10/2006 19:30h, estou fechando o meu estabelecimento comercial no Terminal Rodoviário Tude Bastos em Praia Grande-SP. Dia fraco de vendas, igual aos muitos que passaram nos últimos três anos.

Um terminal vazio, e o meu gráfico, tem a sua seta caída no fundo da tabela de crescimento das vendas.

Já sei que o Sr. Lula foi reeleito vencendo Geraldo Alckmin no segundo turno. Um sentimento toma meu pensamento, enquanto meu coração pulsa numa natural revolta por saber que o Brasil não estava num bom caminho político.

Liberto a minha bicicleta do poste, e nela, companheira desses últimos anos volto para casa.

Por caminhos conhecidos e desertos logo chego a minha rua. Um pouco antes do portão de casa, frente a lixeira da casa vizinha vejo que uma pessoa está a revirar os sacos de lixo.

Me pareceu ser um menino.

Paro em frente à minha casa, pensativo.

Solange, minha mulher, estranha eu não entrar em casa, e ficar ali parado a olhar para o outro lado da rua. Se aproxima de mim.

Eu início a travessia da rua, e ela me segue.

Alguns passos depois, eu estou diante daquela pessoa. De fato, um menino.

Devia ter a idade do meu filho Cassio (9 Anos).

A pergunta que lhe faço, sai da minha boca, sem cuidado, meio ríspida, meio paterna.

- Menino, o que você está fazendo na rua a esta hora?

Como se eu não estivesse vendo as suas pequenas mãos metidas dentro do saco de lixo.

Solange conseguiu ser mais direta na pergunta.

- Você está procurando comida filho?

Ele, com os olhos fixos em mim, responde para ela.

- Comida não dona. Estou vendo se consigo achar algo que possa ser vendido no ferro velho amanhã.

Eu repliquei:

- Mas você devia estar em casa. Hoje é domingo e isso não é hora de criança estar na rua, num bairro como o nosso...

OBS 3: Nesse tempo, o Tude Bastos, no Sítio do Campo onde morava, era um bairro temido e com toda razão, pois nele havia uma boca de fumo em cada esquina.

O menino então mostrou-me alguns pedaços de ferro e alumínio que havia encontrado e completou...

- Eu sei moço, mas é que eu preciso ajudar minha mãe, senão a gente não vai ter o que comer amanhã.

Solange lhe perguntou, e ele de pronto respondeu:

- Você não é daqui?

- Eu sou da Bahia dona. Chegamos aqui faz pouco tempo.

Nesse momento a emoção que estava reprimida em mim desde o momento que havia deixado a loja, explodiu e as lágrimas cairão sobre os panfletos pró lula que ainda forravam aos milhares o chão das ruas do bairro, desde a zona eleitoral que ficava bem próximo da nossa casa.

A meu ver, alguma coisa estava errada naquele cenário.

O sotaque do menino era inconfundível. Me veio de imediato a mente a lembrança do dia que passei por Riachão do Jacuípe na Bahia, alguns anos atrás. Eu, nesta ocasião conversava na porta de um hotel com algumas crianças e uma delas ao saber que eu era de São Paulo me informou, já me questionando.

- Moço, eu tenho uma tia lá em São Paulo. O senhor a conhece?

Sua irmã de pronto, veio me ajudar...

- Mas Diego, São Paulo é muito grande.

Ele não deu o braço a torcer.

- Maior que Jacuípe?

Se o Nordeste está conforme se apregoa uma maravilha no governo desse senhor, o que significava a presença daquele menino ali, naquela hora, a revirar sacos de lixo.

- Filho...Disse-lhe eu com lágrimas molhando minhas palavras...Se eu lhe der um dinheiro, você promete que vai para casa.

Ele não titubeou para responder.

- Prometo moço!

- Mas é para ir mesmo. Não quero ver você mais na rua hoje.

- Pode deixar moço, eu vou pra casa.

Peguei minha carteira, e nela tinha R$ 8,00

Dei R$ 4,00 para ele e fiquei com os outros R$ 4 para as nossas despesas com o café da manhã no dia seguinte.

O menino pegou o dinheiro das minhas mãos e me disse, me parecendo ouvir o menino lá de Riachão do Jacuípe.

- Pode ficar sossegado moço. Eu gostei do senhor e não vou lhe faltar com a minha palavra.

Ele virou-se para a Solange e completou:

- Obrigado dona!

- Tá bom, agora vai para sua casa.

Ele colocou aquele pouco dinheiro que lhe dei no bolso, e se foi com seu passinho miúdo e pés descalços.

Entrei em casa, e vi meus dois filhos no sofá me esperando.

Eles virão o meu estado, e correram para me abraçar.

O que foi que aconteceu pai?

Contei-lhes o que se passara e choramos os quatro, em profundo lamento por aquela situação.

Na abertura do meu livro “Destino em Transição”, eu comentando algo acontecido nos primeiros meses do primeiro mandato do Sr. Lula, apontei: “Vamos lá Presidente Lula, mande acertar o seu relógio e faça os ponteiros deste Brasil andarem no compasso de um tempo que nos traga a garantia das horas certas e dias melhores, afinal tudo são detalhes, não os faça enorme entre nós”

Hoje, um dia após a confirmação da reeleição dele, lembrando aquele menino de ontem a revirar o lixo às 20h da noite, aponto ao Senhor Lula o seguinte:

“Quando tiramos o tempo de alguém, tudo que fizermos depois, será feito no sentido ou forma de compensar uma vida perdida.

O Brasil, não pode mais perder tempo. Quanto tempo mais perdermos, mais pobres seremos e menos tempo teremos para corrigir nossos erros, principalmente os erros cometidos contra aqueles que entendem ser o tempo para si, apenas uma brincadeira de criança.”

Hoje, quando esse Ser abjeto que se transformou num ladrão lesa pátria, e mergulhou o País num mar de lama via corrupção, mãe de todas as mazelas, quer ser de novo presidente, para saciar a fome dos seus lobos de estimação, digo: “Por Deus, pelo Brasil, por minha família, pela minha liberdade, votarei com a consciência tranquila em Jair Messias Bolsonaro no próximo dia 02/10/2022.”

FIM