A característica mais importante do professor

Ser professor é, geralmente, uma escolha do coração. Os professores que conheço são (ou já foram) idealistas, daqueles que gostam de crianças e gostam de ensinar, de estar junto com outros seres humanos, de trocar e aprender sempre. Contudo, poucas profissões trazem consigo tamanha responsabilidade: não só pelo que se vai ensinar ao aluno em termos de conteúdo, mas também pela formação do caráter desse aluno, pelo seu bem-estar físico, por sua constituição como sujeito num grupo social, o primeiro fora do seio familiar. Por isso, ser professor é desafiador, é uma tarefa grandiosa.

Além das responsabilidades para com o aluno, o professor invariavelmente tem uma elevada carga de trabalho para ser feito fora da sala de aula, O planejamento, a avaliação do desenvolvimento dos alunos, os relatórios, as atividades, a seleção de recursos didáticos, a reflexão e o registro do trabalho... são inúmeras as tarefas inerentes à profissão docente. Assim, não é de se espantar que os professores estejam quase sempre afobados, correndo contra o tempo!

O melhor de ser professor, como os que escolheram esta carreira bem sabem, é a convivência com os alunos. É vê-los aprender que nos motiva a continuar buscando dar o melhor de nós a cada dia. Contudo, infelizmente, essas tão preciosas relações são às vezes afetadas pela nossa ansiedade em dar conta das inúmeras tarefas e exigências profissionais. E a relação com as crianças pode ficar aquém do que gostaríamos, o que nos frustra e causa ansiedade ainda maior.

Com superar esse problema? Nenhuma resposta está dada. Mas tenho pistas que me levam a uma idéia de qual é a característica mais importante de um professor, que lhe permitirá cultivar uma relação mais profunda e produtiva com seus alunos, engajando-os no aprendizado.

Essa característica é a empatia. E empatia é a capacidade de colocar-se no lugar do outro, de ver uma situação através do ponto de vista do outro. As pessoas mais carismáticas, as que obtém mais sucesso nas relações interpessoais, são aquelas que desenvolveram essa capacidade.

O professor empático irá conhecer melhor seu aluno, perceber sua personalidade, descobrir suas necessidades e, assim, saberá em que sentido deverá agir.

Essa é uma característica muito difícil de desenvolver na sociedade individualista que valoriza mais o “ter” do que o “ser”. Nossa cultura nos impele a viver isolados em meio a milhares de pessoas, e assim desaprendemos a conviver, a focar nosso olhar sobre o outro, a querer descobrir o universo oculto em cada ser humano.

Tenho certeza de que nós, professores, freqüentemente tomamos decisões e assumimos posturas calcadas nas nossas necessidades e não nas de nossos alunos. E isso não ocorre por maldade, negligência ou qualquer má-intenção de nossa parte. É que nós simplesmente não procuramos olhar com os olhos do outro, afogados que estamos em nossos afazeres pelo outro.

Contudo, todo esse ativismo nada significa se não pudermos dirigir nossa dedicação às crianças, que assumimos ser o mais importante de nossa escolha profissional. Porque não sabemos nos colocar no lugar delas.

Disse alguém que as crianças são muito mais compreensivas e condescendentes com os adultos, sem nunca terem vivido essa fase da vida, do que os adultos, que já foram crianças, são com os pequenos.

Muito mais importante do que os conteúdos que devemos ensinar (e que sem dúvida não devem ser esquecidos) é o tipo de pessoas que queremos ajudar a formar. Isso é o que fica após tantos anos de escolarização, com professores diferentes, a maioria dos quais se apaga da memória. O mais importante não é “o que”, mas “como”.

Essa é a nossa busca.