Entrevistando...

ENTREVISTANDO...

• Qual a média de vida de sua família?

R. Setenta anos

• O que você chama de “qualidade de vida”?

R. Morar numa cidade tranqüila, ter condições de consumir alimentos saudáveis, ter condições de viajar, passear...

• Você quer viver até que idade?

R. Ah! Quero viver até 100 anos desde que tenha saúde.

• Você tem medo da morte?

R. Quem não tem? A dor da morte é horrível.

• Como você sabe? Você já morreu?

R. Não, mas todo mundo diz. O Samuca disse é muito ruim.

• Ele já morreu?

R. Não, ele tá vivo, é meu amigo. Mas ele lê muito sobre isso. Ele disse que começa com uma dor igual aquelas câimbras doida e o corpo vai esticando, esticando, até a gente ficar duro, e vem dor de todo jeito.

• Então você não quer morrer porque tem medo da dor da morte?

R. Não é só por isso. Eu já senti tanta dor, a dor do parto, já tive cálculo renal, dor no músculo, na coluna, o problema é que não sei se vou para o céu ou para o inferno.

• E como é o céu e o inferno? Você já esteve lá?

R. No inferno? Não, Deus me livre. Lá tem fogo, chifres, espeto do diabo, calor, lugar muito ruim.

• Então você prefere não morrer para continuar no “céu terrestre”?

R. Sabe, aqui na terra a vida às vezes, é um inferno. Falta dinheiro, muitos compromissos a pagar não se têm amigos, está cheio de diabo espetando a gente. Por isso a gente sempre diz: diabo de vida.

• Se você já sentiu dores iguais da morte, se você acha que essa vida é um inferno, porque tem tanto medo de morrer?

R. Sabe, pensando bem, vale à pena arriscar. Quem sabe, a dor da morte seja menor do que muitas outras que senti e quem sabe eu mereça o céu.

• Então? Você quer morrer agora?

R. Não. Meus filhos já estão criados, poderia até fazer a viagem, mas tenho dúvidas. Não sei o que me espera, não sei do outro lado. Pelo sim pelo não, melhor ficar nesse inferno de vida no meio dos diabos loucos. Ali e acolá eu encontro anjinhos que me deleitam. Por alguns momentos sinto-me no céu.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 02/12/2007
Reeditado em 17/05/2020
Código do texto: T762163
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