A MULHER, O LIXO E O TRÊS

Imaginem uma criança que, descobrindo o mundo e sabendo já de alguns prazeres, se depara em um supermercado com a ala de doces, seus olhos se agrandalham e não sabe por onde começar. Ela sai em direção a uma coisa e pára logo que vê outra. Muda de direção e quando está para agarrar pára, pensa, gira e vê atrás dela uma prateleira enorme, cheia de coisas deliciosas e coloridas. Ela pára, olha para trás e para frente. Não entende, tenta raciocinar, seu cérebro está quase em curto. Então numa chispa ela corre na outra direção. E assim fica por uns bons momentos.

Então hoje, tomei meu café da manhã na hora do almoço, pois não tive

tempo de prepará-lo e acabei gastando 70 cêntimos com um coffee to go. Parei na janela como todos os dias para contemplar a forma como se desnuda a árvore que tenho aí em frente com a mudanca do tempo, das estações. E eis que surge, do prédio vizinho, a passos lentos pelo frio, talvez vinte e cinco ou até mesmo seus vinte e oito anos, algo loira, algo morena, levava seu sobretudo cinza, óculos de grau moderno de cor um tanto mel, seu jeans desgastado, uma bolsa um tanto alternativa jogada ao lado do corpo, um cachecol que escondia sua artéria e um tênis simples feito de pano e de uma cor clara que denunciava: estudante de letras e intelectual, devoradora de livros e culta.

Ela levava três bolsas, todas de plástico, brancas. Logo percebi as bolsas de lixo nas quais ela em três dias, carinhosamente, separou papel, lixo orgânico e plásticos. Surpresamente ela se depara com sete cores, sete cubos de lixo. Espantada e meio traumatizada, ou em estado de alerta instintivo ela pára, olha as três bolsas que leva, pensa, olha em seu entorno, direciona com um impulso quase que instantâneo a cor amarela, pára, olha as bolsas brancas e logo em seguida, gira e vê dois cubos de tampas negras. Tenta dar um passo, mas algo lhe bloqueia. Assim que completa meio passo e pára, olha a tampa azul, olha as três bolsas e assim segue por uns quase dez minutos... como uma ninha sem saber como agir, surpresa pelo novo velho dilema.

"Separo em três, tenho sete, divido por dois e sobra um... algo está

errado..." Neste desespero começa a abrir agoniada lixo por lixo, desesperada.

E em um ato de euforia, abre um cubo e atira uma bolsa de lixo. Pára,

pensa, olha que sobram duas bolsas e seis cubos de lixo. Rapidamente abre outro e joga uma bolsa e desta vez decidida gira, sem pensar, abre outro cubo e joga a última bolsa.

E num ato de alívio, diferentemente dos passos suaves com os quais ela apareceu, mas sim em passos apressados de alívio e inseguranca, passos de não querer pensar, desaparece pela esquina de seu prédio. E a vida segue normalmente até o próximo terceiro dia, onde ela neste tempo, recolherá suas sobras em três diferentes bolsas, e decidirá em sete diferentes caminhos, uma por uma, sem saber quais quatro sobraram.

Erro, acerto?

Sete; perfeição.

Três; pai , filho e espírito.

Um; um Deus decidindo entre a existência dentro da perfeição.