Depressão

Parece que eu tenho uma tonelada de palavras pra dizer mas quando chego pra escrever fico muda.

Me sinto densa. Tem uma densidade na garganta que é como um buraco negro… cabem infinitas coisas e no fundo é um tremendo vazio, ou uma infinidade de coisas que foram engolidas com tanta força a ponto de tornarem-se uma massa compacta, sólida, pesada, profunda.

Eu não sei mais quem sou nem de onde vim. Minhas referências estão desmoronando.

Eu não tenho mais a fé que tinha antes e não vibro mais com a troca de estação, não vejo mais a magia no mundo como eu costumava ver, faz tempo… eu não sinto mais aquele calor de estar viva. E ainda assim reconheço a importância dessa sabedoria invisível que me trouxe até aqui.

Hoje caminhei sob árvores altas e belas de pata de vaca, senti ternura ao olhar para as vagens, mas o que pensei foi em como as flores rapidamente deram espaço para elas, em como foi veloz… o céu nublado que antes me enchia de introspecção e inspiração, o vento que me fazia ir longe ou dançar, não … nada disso me enche como outrora. Ao olhar os panetones no mercadinho, me assustei quando percebi novamente que estamos chegando ao fim do ano… enfim, tudo o que consegui pensar foi em como o tempo correu e como me sinto estagnada, minha impressão é de que meus pés foram fincados na terra ou pesam toneladas. Não há algemas para remover, são meus pés, preciso curá-los e não arrancá-los fora…

E quando percebo-me escrevendo, sinto vazio… me sinto vazia.

Enquanto caminhava percebendo a ausência daquela inspiração com o clima-natureza, conexão com algo maior que me eleva, entendi que aterrissei.

Aterrissei no chão, me fiz concreta e vi que meu momento de vida, novamente, é destes bem carne e osso, é minha vida pedindo posicionamento, atitudes, definições… senti minhas vísceras, músculos, membros, seios, barriga, coxas, pés, movendo-se a cada passo que dava, orgânicos, concretos… me vi longe do céu, longe das nuvens brancas, longe do vento, enraizada… como se tivesse perdido minhas asas para uma dura realidade de quatro patas.

Às vezes choro pois era tão bom voar… e me desfazer no tudo ou nada desta existência, em pura abstração… Mas ao escrever isso não desejo mais aquele vôo tão imaginário. Aterrissei na matéria pois quero criar asas concretas e meu próximo vôo não ser fuga, ser festa…

Fases… me dizem…

São fases…

Alecrim Cristal
Enviado por Alecrim Cristal em 14/10/2022
Reeditado em 14/10/2022
Código do texto: T7627711
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