O GRANDE CAMPEÃO

Olimpíadas, este nome nos deixa inspirados e sugere variedade esportiva, saúde, emoção e tudo mais que o Barão de Coubertain esperava das disputas salutares dentro do maior espírito esportivo. Basta competir. E foi partindo desse principio ou quase isso, não fosse pela casualidade que o nobre Aristides pela primeira vez entrara em uma disputa de natação.

Na verdade a natação nunca fora o seu forte, no máximo conseguia umas boas braçadas para não se afogar quando os pés já não conseguiam tocar o fundo; seja da piscina, do rio... lá no interior, ou da lagoa... lá na Parangaba.

Os jogos olímpicos da empresa onde trabalhava em seu apogeu e os "atletas" na verdade apenas com muita boa vontade, pois muitos com barrigas proeminentes denunciavam que estavam mais para levantamento de copo com cerveja e tira-gosto de panelada do que para a busca de recordes. A prova de natação masculina estava para começar e o Iran tinha se empolgado na comemoração da classificação para a final. Estava que nem urubú novo... vomitando direto. Em vez de uma cervejinha só para molhar o bico ele só parou quando a madrugada chegava e o líquido já estava fazendo o caminho inverso. No popular, já estava "enguiando". A cerveja estava querendo voltar para o copo. Foi levado nos braços para o ambulatório. A grande promessa de medalha era apenas mais um número no departamento médico, na velha glicose injetável.

A equipe tinha que ser completada de qualquer jeito e todos saíram a cata de um nadador "dos bons" para na pior desgraça: completar a prova. Eis que a chamada final no auto-falante foi ouvida e o aperreio foi maior ainda. E nesse corre, corre é que o nosso protagonista entra em cena. Ele estava apenas passando pelo local ia pegar um "sanduba" com uma coca pois estava com a barriga na miséria. Seu grande erro foi estar de sunga no momento errado e no local errado.

- Tá lá o nadador. Gritou o Souzão.

O Souza não era treinador de natação coisa nenhuma, estava apenas bêbado e querendo de colaborar.

O Aristides não estava entendo nada.

- Peraí... o que está acontecendo....?

Coitado, foi puxado pelo brutamontes. Ainda tentou espernear e se safar mas todos os seus apelos foram inúteis. O braço do Souza era mais musculoso que a coxa do pobre "tidão". Ele não tinha como escapar. Quando foi depositado na borda da piscina as explicações eram muitas e ao mesmo tempo, não conseguia entender direito. Tentou protestar.

- Pessoal... além de estar forma de forma... tô com uma fome danada...

- Escuta aqui meu filho... Falou o treinador segurando firme nos seus braços.

- Negócio é o seguinte... é só cair na água e chegar do outro lado.

- Tá bom. Balbuciou.

- Depois que encostar a mão na parede de lá... volte mais rápido ainda.

- Quê... tem de voltar?

- Tidão... Tidão... Tidão... a torcida já cantava em prosa e versos, pelo apelido carinhoso, o novo herói; após o seu nome ecoar nos quatro cantos do parque aquático pelo serviço de som. E colocaram o velho Tida em uma raia bem próxima a borda. Ele achou excelente. Mas seria melhor a primeira ou a última... no caso de uma emergência poderia se agarrar nas paredes laterais.

- A prova vai começar! Anunciou o locutor.

- Em suas marcas... E o tiro de partida foi detonado.

Os outros concorrentes se jogaram céleres na água, mas o velho Tida tinha ficado observando a saída dos outros. Diria depois que era para não fazer feio, ver primeiro os outros e tentar não cair de barriga na água. Mergulhou com classe, quase em câmera lenta eu diria. Estilo sapo fugindo de cobra. O nado era de lagoa, parecia um calango com a cabeça de fora e as braçadas totalmente desordenadas. Mas a torcida já um tanto animada pela ingestãos duas grades de cervejas e outros tantos litros de uísque, nem queria saber.

- Tidão.. Tidão... Tidão...

O Souza então, não se continha:

- Eu descobri este talento. Tinha até uma certa razão... seu pupilo "tava" lento.

A bebida já estava realmente fazendo efeito. O Souza não percebeu mas o Tida estava em apuros, quase se afogando. Os outros já estavam retornando e ele ainda a tentar chegar na outra borda da piscina. Quando começou a volta a situação piorou e o ar começou a faltar. Na falta de um salva-vidas(onde já se viu salva-vidas em uma competição de natação) o jeito foi fazer uma diagonal. Sempre foi bom aluno de geometria. Mas segundo sua tese instintiva, contrariando a tudo que tinha aprendido.. naquela momento a menor distância entre dois pontos era uma diagonal e não uma reta. Rumou em direção a lateral da piscina. Os braços pareciam de argamassa misturados com chumbo.. quase não se erguiam mais.

E a galera..

- Tidão... pro outro lado p....!

Tidão nem queria saber dos apelos e muito menos da competição... queria salvar a pele. Com um grande esforço se agarrou na margem lateral e quase desmaiando pediu para que alguém o socorresse. Ninguém atendeu seus apelos, pois não dava para ouvir nada. O pessoal já comemorava a vitória da outra equipe fazendo um barulho ensurdecedor. O velho Tida foi se arrastando pela borda até chegar a escadinha e finalmente sair de dentro d'água. Ficou estirado no chão... procurando oxigênio. Lembrou do hexa campeonato que não veio... do buraco na camada de ozônio... na derrubada da floresta amazônica... talvez por isso o ar estivesse tão rarefeito.

Tidão ainda teve que ouvir os desaforos da torcida:

- P.. Tida.... devia ter avisado que tú não sabe nada de natação.

- Mas... vocês... Não tinha forças nem para se defender.

Mas não é que o infeliz ainda marcou um ponto. Um dos nadadores foi desclassificado. Não havia tocado na borda para o retorno. O Tida .. não! Tocou em todas as bordas possíveis da piscina.

Como todo torcedor é volúvel mesmo... a galera pegou o grande campeão nos braços saiu para comemorar aquele bendito pontinho.