CURITIBA DOS ANOS 50

Saudades dos tempos de criança. Curitiba apenas uma cidade pequena, com pouco mais de 300 mil habitantes, cercada por imensos pinheirais, com banhados onde a saparada ensaiava um coro ensurdecedor.

Os pinheiros foram sacrificados pelos machados e serras elétricas da ocupação imobiliária e os sapos foram sepultados pelo asfalto negro e cruel.

Curitiba cercada por verdes campos da Água Verde, do Portão e da Santa Quitéria. O Rio Bariguí, piscoso, deitava suas águas límpidas até desembocar no Iguaçu, lá em Araucária.

Curitiba, meio cinzenta pintada pelas névoas das neblinas das manhãs de inverno.

Curitiba onde as penumbras das frias madrugadas eram iluminadas pelas candeias de chamas avermelhadas que projetavam sombras aterrorizantes nas paredes de madeira dos nossos lares.

A velha e saudosa Curitiba com cercas de ripas e galinheiros nos fundos de quintais. De mimoseiras e perfumadas ameixeiras e dos canteiros de couve e ervas perfumadas. Curitiba dos fogões de tijolos onde brasas aqueciam o coração das visitas com um café que tinha o aroma da amizade e do amor.

Saudades de minha cidade e de minha infância que deve ter inspirado Casemiro de Abreu: “Ah, que saudades que eu tenho, da aurora de minha vida...”

Nossos pais, nossos tios já se foram, mas deixaram marcas profundas em nossas memórias.

Naquela cidade que não mais existe as pessoas tinham um estranho costume: visitar-se. Se não tivesse vivido essa experiência eu não acreditaria, mas é a mais pura verdade.

Nos tempos em que a tecnologia ainda não havia facilitado o contato virtual tinha-se esse estranho costume de receber parentes e amigos com um café com leite, acompanhado de pães com manteiga, bolinhos de chuva e de polvilho.

Eu, minha mãe e meus irmãos visitávamos constantemente os parentes e até hoje recordo da alegria e dos sorrisos de quem era visitado.

Na casa da foto moravam Tia Alzira e Tio Ivo e minhas primas Ivanira e Ivalzira. Todos já partiram. Ficou o primo Idalton, que nessa época ainda não havia nascido. Ela fica na Rua José Ferreira Pinheiro. Ontem passei por lá e, cheio de saudades, bati esta foto. Recordei como tudo mudou. Hoje, a Rua Guararapes, alcunhada de Rápida do Portão, cobriu o velho saibro que pintava de amarelo o solo daquela rua quase sem movimento. Os campos que adornavam as adjacências foram substituídos por casas, edifícios e ruas movimentadas. O sopro da brisa que tocava as grimpas dos pinheiros foi substituído pelo ronco de motores. Os meninos já não machucam as solas de seus pés com as afiadas rosetas. O alto falante dos festivais de domingo já não anunciam as antigas canções para a “bela moça de saia vermelha e fita no cabelo”.

Saudades dos tempos de criança. Saudades dos que se foram. Saudades de Curitiba de minha infância.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 19/10/2022
Reeditado em 22/10/2022
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