Pequenas perdas

Tenho vivenciado neste momento da minha vida muitas perdas e esta é a razão principal de estar agora debruçada sobre elas. Você, meu caro leitor, é meu convidado para cinco minutos de reflexão sobre as pequenas perdas da sua vida. Eu vou revirando as minhas, enquanto você procura as suas.

Há bem pouco tempo perdi meu cachorro, tão amado, tão meigo, de cujo convívio tanta falta sinto. Já sobrevivi a vários animais de estimação, e a cada perda, penso que estarei pronta, conformada, certa de que não me fará tão mal assim. A gente pensa que sabe, pensa que está preparada, mas na verdade, nunca está. Os sentimentos são diferentes, mas não deixamos de senti-los. Um dia desses perdi um amigo virtual, não foi nada de mais, somente os revezes da vida que nos afastaram; a vida vinha tomando rumos tão diferentes... quem sabe. No meu curso, tivemos a ausência de três bons amigos, que precisaram se afastar por causas diferentes; minha melhor companhia da academia precisou também se afastar. Pequenas circunstâncias, mas são perdas, pequenas, decerto, mas as vivenciamos, quer queiramos , quer não.

As pequenas perdas podem passar sem ser percebidas por outros, mas por nós, serão sempre sentidas.

No início deste ano precisei cortar o meu cabelo. Longo, o foi por tantos anos, e agora preciso me readaptar, me conformar com as novas situações. Tem gente que perde o emprego; outros perdem o ano letivo; alguns perdem os amigos, outros mudam de cidade; há pessoas que perdem as esperanças e isso não pode ser considerado uma pequena perda. Perder momentaneamente a saúde é preocupante; perder a companhia de alguém; perder um amor; perder aquela flor tão linda do seu jardim... Perder não precisa ter um significado tão palpável assim, para se transformar em uma pequena perda na sua vida. O sol que nasce e que se põe; nesse caso há o consolo de saber que ele estará lá no dia seguinte. "Mas é claro que o sol vai voltar amanhã" ! Pode ser uma flor que murcha e te priva de tão rara beleza; o sorriso de alguém que te diz obrigado; a perda de uma sensação única, indescritível quando se ouve uma música; um show do seu artista favorito quando termina; aquele filme fantástico

(nesse caso pode-se revê-lo), mas a sensação não será mais a mesma. Quando alguém tão querido chega e depois precisa voltar... aquela festa que foi perfeita e nunca nenhuma outra será igual é também uma pequena perda... e tantas e tantas que vivemos e sobreviveremos a cada uma delas.

Pense, pense bem nas suas... todos vivenciamos experiências desse tipo, todos, sem exceção. O tamanho dessas perdas pequenas? Bem, depende da importância que damos a cada uma delas; elas possuem a dimensão que conferimos a elas.

Então, me pergunto: por que existem as pequenas perdas? Certeza, certeza, não posso lhe dar; mas posso lhe dizer que as pequenas nos preparam para as grandes perdas, inevitáveis, definitivas e que marcam o resto de nossas vidas. Cada pequena experiência dessas nos torna mais fortes, um pouquinho de cada vez, para que nos acostumemos... lá no ocaso da vida... a perder os entes queridos, as pessoas que fizeram toda a diferença em nossas vidas; nossos pais, nossos amigos, nossos parentes, nossos filhos , quem sabe. Perder é inevitável, pois não somos imortais, e partir... bem, esse é um conceito subjetivo. Partiremos também e nos tornaremos a perda de alguém.

Pequenas ou grandes perdas... são perdas, decerto; são nossas, cuja intensidade da dor são exclusividade de nosso coração.

Já escrevi esse texto há algum tempo e ainda sim vejo quantas pequenas perdas já vivi, sem contar uma grande perda que estará na crônica seguinte a essa.