QUANDO O AMOR NÃO BASTA

O Amor é um sentimento tão intenso em sua completude, que deveria bastar por si só, mas em geral isso não ocorre, a maioria dos casais se perdem na rotina do sexo por obrigação, por necessidade, por medo da perda, mas ao longo dos anos, um silêncio ali, uma traição sorrateiramente, entre uma saída para qualquer coisa, uma palavra agressiva, um desprezo que estava guardado há tempos, isso vai corroendo lentamente aquele encantamento que levou o casal há um dia ter desejado viver toda a vida um ao lado do outro, e o maior desejo é a libertação, o afastamento, mesmo que as vezes ainda tenha um sexo casual, isso ocorre muito com os ex, porque o amor ainda deixou resíduos num dos parceiros, que tenta desesperadamente recuperar o outro, achando que de uma hora pra outra a chama renascerá, mas na maioria das vezes o que acontece é uma enorme ferida na alma de quem amou mais, não há culpados, aquela união tinha esse prazo de validade, acabou como tudo nesse universo.

Outras vezes o amor de mãe também se vai, lentamente, numa falta de respeito aqui, um abandono mais adiante, num chão sujo, num banheiro cheio de cabelos após o banho dos filhos, na pia cheia de louças sujas, na cama desarrumada, no vazio das refeições sozinha, com a casa cheia de filhos, cada um vivendo seus problemas e ignorando aquele pedaço de carne que um dia foi fundamental para a existência de cada um, que sempre supriu todas as necessidades dos seus filhos, alimentando, vestindo, cuidando nas suas doenças, consolando nas suas frustrações, levando-os para brincarem nos parquinhos, teatros, aniversários, piscinas, indo a cada evento da escola, levando e buscando todos os dias, nos intermináveis dias letivos, dando a mão na rua para ninguém roubar seu bem maior, lavando, passando, cozinhando, trabalhando... esses seres crescem acostumados a só receberem, que esquecem que aquele ser, também precisa ser cuidado, também precisa se sentir amado, mas quase ninguém pensa nisso, esse pedaço de carne que anda pra lá e pra cá, que é chamado de mãe, está ultrapassada, é chata, reclama de tudo, imagina que se finge de cansada e ousa cobrar que seus filhos, ajudem a cuidar da casa, que limpem sua sujeira! Como? Ela sempre fez, que ousadia desejar que os filhos adultos trabalhem e compartilhem com as contas da casa, que façam compras no mercado, que façam a comida, que limpem o quintal? Cada um se sente ultrajado e continuam sugando exigindo, e a mãe que sempre supriu, continua carregando a sua casa nos ombros até seu velho corpo não aguentar mais.

Tem também o amor a um outro ser, de uma hora pra outra, uma pessoa deixa de ser igual a todas as outras e pass a ser especial aos nossos olhos, então desejamos estar por perto, queremos agradar com pequenos presentes, oferecemos uma sopinha quente nos dias frios, um sorvete nos dias de verão, ficamos feliz a menor atenção que a outra pessoa nos dá, até percebermos que essa outra pessoa tem uma outra pessoa que faz o mesmo com ela, e como numa cadeia invisível o amor se perde e as pessoas vão se usando por interesses, vão se comendo, se cuspindo, se rasgando, se drogando, vão rolando no dia a dia, num mar de indiferença, abandono, vazios vão acontecendo dentro e fora de todos até serem tragados pelo buraco negro da morte, de onde não tem força capaz de vencer, nele todo o amor, todo dinheiro, toda exploração, todo abuso, todo silêncio, todo grito, todo fedor da merda do vício, todo vômito do desencanto, toda miséria e riqueza, todo desejo, todo prazer, toda alegria, vaidade, todo conhecimento e ignorância, todo sentimento humano e animal, são cuidadosamente transformados em nada.

Mas uma sombra imaterial que um dia fez parte do material que viveu isso tudo, toma consciência, que viveu o amor de alguma forma, mas ele não bastou, porque sua mente DOENTE, não estava habilitada a se bastar com o simples, do sorriso de criança, a beleza das flores, do cantar dos pássaros, do olhar apaixonado do outro ser, do calor de um abraço sincero, do compartilhar de poucas coisas juntos, como cozinhas, um toque de mãos, um não as drogas, um doce momento em grupo afins, o cheiro do mato molhado, ao toque da areia nos pés, ao banho de chuva, ao brincar de rodas, ao cantar em grupo e sozinho, ao dançar com e sem técnica, ao inventar qualquer obra de artes, ao ler um livro daqueles que tem passaporte imediato para um outro mundo, ao prazer de um banho bem quente, a um suave beijo na boca do ser que se ama e deseja.

O AMOR é tão delicioso! Não deveria nunca ser ignorado, desprezado, deveria bastar a todos, mesmo que em doses homeopáticas, ele é capaz de iluminar o buraco negro da morte e retornar para nortear o caminho de quem ficou só na dor da perda, só o amor é capaz de curar todas as doenças e nos fazer entender que nosso mundo é muito maior que o universo, que nossa vida não se resume ao corpo que temos e nos limita, que Deus é real e não é o sádico que parece. Só o amor é capaz de entender o que é Deus, mas isso só teremos alguma compreensão após passarmos pelo buraco negro da morte várias vezes e deixarmos de lado preconceitos e mesquinhez, só assim saberemos o doce sabor da felicidade, que não é desse mundo, o quê vivemos aqui é apenas uma pequena mostra do seu sabor, como quem degusta um produto no super mercado, para comprar ou não. Como eu queria entrar nas cabeças sofredoras das pessoas que conheço e ligar o circuito que faz entender que o amor deve ser aceito com alegria e sem restrições, que as mães precisam ser amadas e aceitas por seus filhos, enquanto estão ao seu lado, que precisam de ajuda nas suas tarefas diárias, e assim vai...